terça-feira, 14 de outubro de 2014

Qual escola no Japão levo o meu filho?

Eis um momento muito angustiante em que quase todas as famílias brasileiras passam quando moram aqui no Japão. A hora de pensar em qual escola matricular o filho e como ajudá-lo a se adaptar.
Há famílias que tem diversas opções: escola brasileira, escola internacional e a própria escola japonesa (yuchien - jardim de infância, de meio período; ou Hoikuen - creches de período integral), dependendo da região em que mora. Mas também há aquelas que não possuem nenhuma escolha, a não ser a escola japonesa.
Esta matéria pretende ajudá-los, neste momento, a se preparar para a etapa da escolha com perguntas que podem ser discutidas em família, antes da tomada de decisão:

1) Quanto tempo pretendemos ficar no Japão?

Se a resposta for um tempo bem curto é interessante matricular seu filho em escola brasileira ou internacional, assim ele continua com a aprendizagem em português ou, ao menos, em inglês que é uma língua universal. Além de continuar convivendo com a cultura brasileira ou com diversas culturas neste pequeno período em que a família ficar no Japão.
Se a resposta for um tempo mais prolongado (de médio a longo prazo), a família tem muito o que discutir. Mas é importante levar em consideração que esta criança precisará aprender a língua japonesa e um pouco desta cultura para poder sobreviver no país, dando sequência nos estudos e até nos trabalhos futuros aqui.
Diminuir as chances dela ser vítima de preconceitos também é importante. Uma criança que se esforça para falar e se comportar conforme a cultura japonesa é melhor aceita pelos grupos de japoneses.
É preciso entender que o japonês dá muita importância para a harmonia e igualdade nos comportamentos. Aqui "prego que se destaca é martelado", como diz o ditado popular! Então preparar o seu filho para saber se comportar e se comunicar no Japão (sem retirar dele a sua essência, sua própria cultura) é um desafio que pode valer a pena. Aprender a se adequar nos diferentes lugares e culturas é uma competência que vai lhe ajudar em qualquer situação da vida, em qualquer lugar onde ele estiver.
Então, seja em qual escola a criança estiver - brasileira, internacional ou japonesa - caso a família pretenda ficar um tempo maior no Japão, ela precisa garantir a aprendizagem da língua oral e os costumes daqui. Nem se for, ao menos, com aulas extras particulares.

2) Caso minha escolha seja uma escola que não fale português, como saber se ela está preparada para receber meu filho estrangeiro, que não fala e nem entende a língua falada na escola?

A resposta para esta pergunta depende de um processo de investigação que a família pode fazer. É muito importante que pelo menos um dos pais visite algumas escolas antes de matricular o filho (informe-se na prefeitura sobre boas escolas perto de sua residência).
Sinta o clima da visita, se houve bom acolhimento, se os professores se sentiram confortáveis com a presença de vocês, se vocês e, especialmente a criança, se sentiram confortáveis também.
Faça perguntas (com ajuda de um intérprete, se puder e precisar) sobre a história da escola com estrangeiros, sobre como eles lidam com crianças diferentes, sobretudo se ela fosse "surda e muda" como é o caso de uma criança estrangeira que não fala a língua da escola no início.
Perceba se a escola tenta se comunicar com o seu filho com gestos, mímicas, exemplos, estímulos visuais. Estas são boas estratégias no início para lidar com ele, até aprender a se comunicar basicamente na língua local. Os professores da escola precisam mostrar desenvoltura e segurança para que a família comece a perceber que eles estão prontos para recebê-los e que podem trilhar esta jornada juntos.

3) Mas eu não falo inglês, nem japonês e não tenho intérprete. Como faço essas perguntas para a escola?

Não se acanhe! Nesta aventura de morar no Japão tudo vale a pena! Se não há mesmo como pedir ajuda à algum "vizinho" ou colega de trabalho, poste uma mensagem no grupo do facebook chamado SOS Mamães no Japão e peça por ajuda. Veja se tem alguém perto de você disponível para ajuda fisicamente ou, ao menos, por telefone. Você vai na prefeitura e na escola e liga para a voluntária num horário agendado. Ela talvez poderia fazer as traduções para vocês.
É possível encontrar pessoas solidárias na comunidade!
Quando o assunto é filho, toda mãe vira leoa!!!

4) Uma vez decidida a escola, como investigo sobre o que ela ensinará para o meu filho?

Pergunte sobre a rotina da escola: quais atividades ela oferece em cada dia da semana; por quanto tempo; quanto tempo eles dão para brincadeira livre; como eles dividem as atividades em um dia de aula.
Pergunte também detalhes específicos de sua curiosidade, como por exemplo: se uma criança não quer brincar junto com os colegas, o que vocês fazem? Se ela não quer comer, como vocês lidam? Se ela não quer fazer as atividades orientadas, o que fazem? Percebam como elas tratam as crianças e sintam se está de acordo com os seus valores.
Nem sempre as estratégias são as nossas preferidas, mas os valores humanos nas relações dentro de uma escola precisam ter sintonia com os seus.

5) Queria ver de perto as escolas funcionando e lidando com as crianças para ter certeza da minha escolha, é possível?

Sim, é possível, caso você comece a procurar a escola com antecedência. A maioria delas possui um programa de atividades para crianças que não são da escola mais um cuidador (na maioria dos casos é a própria mãe que participa) mensalmente. Vocês podem participar nas escolas que preferirem e com isto vão se acostumando à escola e conhecendo o ritmo dela.
Existem também eventos abertos, como gincanas, bazares, etc. Procure saber na escola o calendário para você poder participar. Observe e interaja. Se possível, pergunte às famílias presentes o motivo pelo qual escolheu aquela escola e não outra para matricular o filho.

Espero poder ter contribuído para esta difícil etapa da escolha. Em breve será tratado o assunto como ajudar na adaptação da criança pequena dentro da escola, no Japão.

Lembrem-se que no processo de formação de um ser humano não há verdades absolutas. Cada um está livre para decidir como protagonizar este processo. O caminho de sucesso de um não necessariamente é o mesmo do outro. Por isso siga o seu coração, seja firme em seus princípios e valores e construa sua rota, lembrando-se sempre que esta criança que você cuida poderá ser um adulto feliz, maduro, ativo e sociável a depender também, dos estímulos e acompanhamento que a família dá.

Gambatte kudasai!






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