quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Pirraça, birra - toda criança faz. Mas podemos evitar!

A Psicoterapeuta francesa Isabelle Filliozat aborda um tema interessante para pais. Ela explica o que é pirraça, o que fazer quando isso acontece, dá dicas para que isso não ocorra e fala da importância do carinho, do abraço, do amor para a criança se sentir mais calma e evitar as birras. Veja um trecho da entrevista:

O que é a pirraça?
É uma reação de estresse. O cérebro está sobrecarregado com excesso de estímulos. A criança não tem mais energia e não tem mais como cooperar. Seu neurônio motor queima, indo em todas as direções. É como uma tempestade no cérebro. É a solução que o cérebro dela encontra para liberar as tensões. A birra pode ser ativada por uma frustração, mas essa última frustração é apenas o gatilho, não a causa. Quando o leite está fervendo, ele transborda, não adianta tampar. Melhor ir direto na causa: desligar o fogo. É o que acontece com a birra.

O que fazer quando seu filho faz aquela clássica pirraça num shopping, quando os pais têm vontade de sumir?
Primeiro respire. E direcione seu olhar para longe das pessoas, para impedir qualquer julgamento. Esse é um cuidado que temos que ter conosco. Em seguida, leve a criança para fora, um estacionamento, por exemplo, e a abrace com carinho.

É possível dar fim à birra?
Em primeiro lugar, não podemos estimular a birra. Não devemos deixá-los esgotados, levá-los a lugares com excesso de estímulos (shoppings). Depois da escola, é sempre bom ir para uma praça ou um playground, onde possam correr livremente. Dê sempre bastante água para que seus neurônios fiquem irrigados, faça uma alimentação saudável (açúcar, creme de leite e certos aditivos podem desencadear acessos de raiva).

Qual a importância de estimular a produção de hormônios como a oxitocina?
A oxitocina ajuda a criança a se sentir feliz, calma, bem. Ajuda a equilibrar a adrenalina e o cortisol, os hormônios do estresse. Podemos estimular sua produção ao beijar, tocar, massagear, dizer palavras de carinho, olhar com atenção. Mas ela não é o único hormônio bom para o comportamento da criança. Podemos estimular também a dopamina (alegria) e a serotonina (calma, harmonia)."

Portanto, mais amor e brincadeiras juntos

Gambatte Kudasai!

Veja a matéria completa em:
Read more: http://oglobo.globo.com/sociedade/toda-crianca-faz-manha-ate-as-francesas-14359263#ixzz3HZxWvZN5




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Brasileirinhos que choram no Japão

 Você sabia que há relatos de crianças em escolas brasileiras no Japão que choram sentindo a falta dos seus pais? Mas não é uma saudade comum. É uma tristeza pela ausência de afeto, de presença. 
São crianças que passam um tempo grande dentro da escola e quando chegam em casa não encontram o aconchego, o carinho e a atenção que precisam.
Normalmente são filhos de pais que precisam trabalhar em longas e duras jornadas de trabalho. E não são poucas as famílias que precisam investir seu tempo e energia para ganhar dinheiro no Japão. Muitas estão dedicando parte de sua vida para construir um futuro melhor e acabam por não terem tempo, nem energia suficiente para se envolver com os seus filhos.
Isso quando não se soma a uma desestrutura familiar: pais separados, conflitos, tensões e brigas constantes em casa, etc.
Não há críticas sobre a jornada de trabalho. Mas há uma necessidade de olhar com cuidado para esta situação, para as crianças que estão crescendo, solitárias, ao léu e chorando.
Vejamos alguns pontos importantes sobre a presença da família no desenvolvimento das crianças:

Qual é o papel da família na formação dos filhos?

A família tem papel fundamental na formação do caráter e da personalidade dos filhos. Suas condutas perante a vida irão se basear nos valores e exemplos que teve dentro de casa. 
Carinho e afeto também ajudam no desenvolvimento emocional da criança, repercutindo numa vida adulta saudável do ponto de vista emocional.

Quais são as possíveis consequências da ausência da família no cuidado com os filhos?

Problemas psicológicos
Dificuldades e evasão escolar
Vulnerabilidade às drogas
Delinquência juvenil
Obesidade

Como podemos amenizar os traumas? Algumas dicas:

- Melhore a qualidade do tempo que você passa com seus filhos. Mesmo que o tempo seja curto e a energia pouca, crie situações em que vocês possam se divertir juntos, conversar, trocar experiências, brincar, abraçar...

- Aproveite os momentos de cuidado - alimentar, trocar, dar banho - e torne-os agradáveis, lúdicos e divertidos. Não tenha pressa, este pode ser o seu único e precioso momento com as crianças.

- Lembre-se sempre que seus filhos estão te observando e extraindo de você as aprendizagens sobre como elas devem se portar no mundo. Portanto, cuide do modo que você fala, se comporta e pensa sobre a vida.

-Tente se fazer presente emocionalmente, quando a presença física é impossível: Telefonar, deixar bilhetes e fazer surpresas pode ser uma boa saída.

-Justifique a ausência com uma conversa franca, quando os filhos são mais velhos.

- Cuide dos seus filhos considerando-os como os bens mais preciosos que vocês possuem. Se há um tesouro a ser construído no futuro onde nada e ninguém levará é a saúde psíquica, física e cognitiva das crianças. 

Não é uma tarefa fácil. Mas para os filhos tudo vale!

Gambatte kudasai

domingo, 26 de outubro de 2014

Cidadania e democracia começam em casa

Japão e Brasil possuem um sistema político democrático. Para fortalecer este sistema precisamos começar a ensinar nossos filhos desde cedo, em casa.
Veja algumas dicas sugeridas pelo site Educar para Crescer:

1. Ensine que ninguém pode tudo: Combine direitos e deveres. Distribua responsabilidades e liberdades. Ajude a criança a entender que ninguém pode tudo, que uns e outros devem respeitar-se e tentar viver em harmonia. 

2. Fale o que faz. Faça o que fala. Seja coerente.

3. Dê bons exemplos!

4. Envolva-se em questões de sua comunidade

5. Seja democrático em casa. Estimule a participação de todos com respeito. Abra-se para o diálogo.

6. Ouça seu filho

7. Respeite o outro

8. Contribua para a sociedade

"Democracia é a filosofia ou sistema social que sustenta que o indivíduo, apenas pela sua qualidade de pessoa humana, e sem consideração às qualidades, posição, status, raça, religião, ideologia ou patrimônio, deve participar dos assuntos da comunidade e exercer nela a direção que proporcionalmente lhe corresponde. (LAKATOS, 1999)

Fortaleça esse sistema começando pela sua casa!

Gambatte Kudasai 

Referências:

LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 7.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
Tarrio, C. "Como tornar o seu filho cidadão". Disponível em <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-filho-cidadao-781841.shtml > Acessado em 25/10/2014

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Parques públicos no Japão: benefícios e formas de localizar

Você já percebeu como existem inúmeros parques públicos no Japão?
Aqui a lógica do "playground" privado em prédios e condomínios não existe. Os espaços de lazer e recreação são espalhados em torno dos bairros, otimizando espaço e reunindo a população de todas as idades.
Os espaços são gratuitos, bem equipados e cuidados pela própria população inclusive. Além do estímulo à sociabilidade e cidadania propiciam também o desenvolvimento de habilidades motoras e psico-motoras. 
Para se ter uma noção específica de quais são estas habilidades desenvolvidas nos jogos e brincadeiras nos parques e "playgrounds" veja esta lista:

Coordenação dinâmica geral e manual, viso-motora, imagem corporal, orientação pessoal, comunicação (verbal, gestual e não verbal), percepção auditiva, visual, olfativa, gustativa e tátil, atenção, concentração, noções de corpo, espaço e tempo, memorização, pensamento lógico, imaginação, criatividade, equilíbrio, lateralidade, respiração consciente, entre outras.
Por isso que é tão importante levar a criança a um parque. O brincar e todas as atividades motoras que propiciam prazer através do corpo são essenciais na construção do conhecimento da criança. Pois é, por meio das ações, que a criança vivência, expõe e assimila os pensamentos e as emoções, coordenando pensamento e corpo.

Quer saber como encontrar parques públicos na sua cidade? Algumas dicas:

- Entre na página da prefeitura de sua cidade "nome da cidade" + "prefecture";
- Faça uma busca na internet usando o nihongo e depois peça por tradução:
"公園(parque) + nome da cidade
Ou "遊具のある公園". Isto significa parque com brinquedos. Acrescente o nome da sua cidade.
Ou "子どもの遊び場 + nome da cidade. Isso significa "espaços para crianças brincarem + nome da cidade"
De graça escreve-se 無料 

Vamos sair de casa e brincar, mesmo que o tempo e a energia após uma longa jornada de trabalho seja pouca. Vale a pena o investimento!
Crianças felizes, pais felizes!

Gambatte kudasai!










quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Aplicativos e programas para aprender japonês (crianças e adultos)

Além dos sites, existem diversos aplicativos para aprender japonês, gratuitos ou pagos. Veja por exemplo alguns aplicativos gratuitos:
- Aprenda japones fácil
- L-Lingo Aprenda japonês
- Aprenda japonês grátis com Mondly
- Learn japanese easily
- Mirai japanese 

Existem também materiais didáticos e lúdicos para o ensino do japonês para crianças em casa. Veja alguns deles:

Dinolingo
http://dinolingo.com/br/languages/japanese.html

Kumon
http://www.kumon.ne.jp/jpn/portuguese/

São muitas as oportunidades, não deixe de aproveitá-las para melhorar as condições de comunicação de toda a família no Japão.
A comunicação é uma das grandes barreiras da boa adaptação no país.

Gambatte kudasai!

Cursos de japonês grátis online

A maior parte dos cursos gratuitos de japonês na internet são básicos e envolve um vocabulário inicial. No entanto, são de grande ajuda para quem está começando a aprender o idioma. Os links abaixo referem-se a alguns sites que oferecem gratuitamente parte ou integralmente os seus cursos:

NHK
http://www.nhk.or.jp/lesson/portuguese/learn/story/overview.html

Busuu
http://www.busuu.com/pt/ja/

Lingq
http://www.lingq.com/pt/

Aprendendo japonês 
http://www.aprendendojapones.com/category/licoes/

Gambatte kudasai!

domingo, 19 de outubro de 2014

Brinquedotecas públicas e Centros de apoio à criança: benefícios e como encontrá-los.

No Japão existem diversas brinquedotecas públicas, financiadas pelo governo ou por um investidor privado. Todas adaptadas para crianças de 0 a 6 anos.
Oferecem palestras, serviço de baby sitter, mas sobretudo, um espaço equipado com brinquedos educativos.
É sobre esse espaço que vou falar aqui para que as famílias possam se motivar a utilizar com mais frequência compreendendo os benefícios para as crianças.

Os benefícios das brinquedotecas:

Ao terem acesso livre a brinquedos adequados para sua idade a criança é convidada a uma viagem à imaginação, experimentando o corpo e a realidade por meio de fantasias, do faz de conta, pulando de uma brincadeira a outra, interagindo consigo própria e com os outros, testando hipóteses sobre o mundo.
Isso contribui para o despertar da criatividade, e para, consequentemente, da consciência e da cidadania, pois são espaços que proporcionam encontros entre crianças e famílias e estimulam a brincadeira coletiva, entre pais e filhos e entre crianças com outras crianças, de modo a aprender a se relacionar, a respeitar as regras e o bem comum.
Um estudo publicado no Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine do Journal of the American Medical Association comprova que filhos que brincam com pais tem maior rendimento escolar. E outros diversos estudos também falam sobre a importância do afeto e de uma vida emocional saudável na primeira infância para o desenvolvimento da saúde psíquica do adulto, evitando problemas psicológicos e delinquência juvenil. 

As brinquedotecas também oferecem condições para o desenvolvimento das múltiplas inteligências de uma criança. Sabe o que é isso?

A teoria das inteligências múltiplas foi desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner. Depois de muitos anos de pesquisas com a inteligência humana, o psicólogo concluiu que o cérebro do homem possui oito tipos de inteligência. Estas apresentam-se de duas formas: algumas herdadas geneticamente, outras desenvolvidas por meio das experiências e estímulos de familiares, da escola, da região onde mora, etc.

As inteligências são:

· Lingüística – capacidade elevada de utilizar a língua para comunicação e expressão.
· Corporal – grande capacidade de utilizar o corpo para se expressar ou em atividades artísticas e esportivas. 
· Lógica – voltada para conclusões baseadas em dados numéricos e na razão. 
· Naturalista – voltada para a análise e compreensão dos fenômenos da natureza (físicos, climáticos, astronômicos, químicos).
· Espacial – habilidade na interpretação e reconhecimento de fenômenos que envolvem movimentos e posicionamento de objetos. 
· Musical – inteligência voltada para a interpretação e produção de sons com a utilização de instrumentos musicais.  
· Intrapessoal – pessoas com esta inteligência possuem a capacidade de se autoconhecerem, tomando atitudes capazes de melhorar a vida com base nestes conhecimentos.
· Interpessoal – facilidade em estabelecer relacionamentos com outras pessoas. 

Mas de que forma as brinquedotecas estimulam as múltiplas inteligências?

Por meio de seus brinquedos educativos, das brincadeiras, dos espaços apropriados, do encontro entre crianças e da relação lúdica e educativa entre pais e filhos.
Tudo isso trará estímulos para a criança. 
Então, aproveitem estas inúmeras possibilidades para viver a infância de seus filhos, garantindo-lhes uma vida com diversão e aprendizado.
Investir no afeto entre família e na brincadeira com os pais garante para os filhos um futuro com maior probabilidades de sucesso.

Quer saber como encontrar brinquedotecas públicas e centros de apoio à criança na sua cidade?

Procure pelos Kosodateshien-center. Em nihongo 子育て支援センター
Faça uma busca na internet utilizando esta palavra acrescido do nome de sua cidade.
Estes lugares também dão palestras e algumas possuem serviço de baby sitter por hora para mães que tem algum rápido compromisso e não querem ou podem levar o filho, como ir ao supermercado, ao médico, etc.

Vamos sair de casa e brincar, mesmo que o tempo e a energia após uma longa jornada de trabalho seja pouca. Vale a pena o investimento!
Crianças felizes, pais felizes!

Gambatte kudasai!












sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Comportamento social no Japão: panorama sobre como se aprende, críticas ocidentais e a busca pelo equilíbrio

Você e todo o resto do mundo já percebeu que os japoneses são mestres em transmitir às suas gerações as suas habilidades sociais de cidadania. A criança, desde cedo, aprende a se comportar dentro de um coletivo, seja no grupo de famílias ou amigos, seja nas ruas da cidade. 
As pessoas, em sua maioria, se respeitam e respeitam as diversas e claras regras estabelecidas na sociedade.
Todo estrangeiro que chega no Japão fica extasiado com a funcionalidade e respeito às dinâmicas da cidade. As pessoas falam: "aqui tudo funciona".
Longe de querer escrever uma tese ou um longo debate sobre o assunto (pois mereceria), pretendo aqui trazer uma pequena noção sobre o tema que é de curiosidade para muitas pessoas, em especial, aquelas que tem filhos e que vão receber a influência dessa cultura.
Tomarei por base o diálogo e as experiências com as escolas de educação infantil japonesa, o livro "Educação Infantil em Três Culturas: Japão, China e Estados Unidos" de Joseph Jay Tobin, disponível na versão inglesa também e o livro "Bushido" de Inazo Nitobe.

Como a criança japonesa aprende noções de cidadania?

Vou abordar aqui 2 grandes fatores: a herança cultural e o currículo escolar.

- A herança cultural do "Bushido": o código de conduta e modo de vida dos samurais (a classe guerreira do Japão feudal ou bushi)

O Bushido foi formado e influenciado pelos conceitos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo. A combinação dessas doutrinas e religiões formaram o código de honra do guerreiro samurai, conhecido por Bushido, e vem transmitindo às gerações.
Em função das influências do Budismo e os ensinamentos Zen, os samurais buscavam entrar em harmonia com o seu Eu interior e com o mundo à sua volta. 
O Xintoísmo trouxe influências de valores como a lealdade, o patriotismo, e a reverência aos seus antepassados. Com tal lealdade para com a memória de seus ancestrais, os samurais empenham essa mesma reverência ao imperador e ao seu daimyo ou senhor feudal. E até hoje, continuam o forte respeito à hierarquia, aos mais velhos. 
O Xintoísmo também fornece a importância para o patriotismo com o seu país, o Japão. Eles crêem que a Terra não existe apenas para suprir as necessidades das pessoas. "É a residência sagrada dos deuses, dos espíritos de seus antepassados…" A Terra deve ser cuidada, protegida e alimentada por um Amor intenso.
O Confucionismo oferece ao Bushido a sua crença em relação aos seres humanos e às suas famílias. O Confucionismo ressalta o dever filial e as relações entre senhor e servo, pai e filho, marido e mulher, irmão mais velho e mais novo e entre amigos mais velhos e mais novos.
Junto com estas virtudes, o Bushido também prega a justiça, benevolência, coragem, amor, sinceridade, honestidade e autocontrole. A justiça é um dos principais fatores no código do samurai, assim como o amor e a benevolência, que são suntuosas virtudes dos samurais.
Esta herança cultural deste "código de cultura" contribui para a formação do inconsciente coletivo dos japoneses, fazendo-os viver e aprender desde cedo comportamentos pautados no respeito ao outro e no país, honestidade, justiça, respeito e obediência aos mais velhos, lealdade e harmonia. Todos valores que contribuem para o modo de ser cidadão e a dinâmica de funcionamento desta sociedade.

- A participação em um currículo escolar orientado para o grupo e para a sociedade

As características mais altamente valorizadas pelos professores de educação infantil, por exemplo, são: empatia, gentileza, consciência social, bondade, cooperativismo, obediência, entusiasmo, perseverança e receptividade. 
Em quase todas as escolas japonesas os alunos são estimulados a cooperarem com o grupo e a não buscar se destacar. Por exemplo, crianças e adolescentes usam uniforme e são proibidos de usar brincos e pintar cabelos.
As turmas normalmente são numerosas para aumentarem as interações e aprenderem a funcionar como membros de um grupo. 
Turmas costumam ter nomes e bandeiras, escolas os seus emblemas e uniformes os broches das bandeiras facilitando a identificação da criança a um grupo de pertença.
Realizam eventos esportivos anuais para também fortalecer os grupos. 
Crianças são chamadas pelo seu nome e pelo nome da turma ao qual pertence, de modo a sentir-se orgulhosa de seu grupo.
Os professores evitam estar prontamente disponíveis para as crianças para não tender a desencorajá-las a formar amizades e a reagir, primeiramente, uma com as outras.
Os alunos são convidados a ajudarem na organização e limpeza de suas salas. Revezam-se entre si para servir os colegas na hora das refeições. Cuidam e ajudam as crianças mais novas em situações especiais. Ou seja, são estimulados a cooperarem e a sentir-se co-responsável pelo bem estar coletivo.
As regras de convivência são claras e as punições cumpridas.
A humanidade de uma criança é realizada na sua capacidade de cooperar e sentir-se parte do grupo.
E finalmente, mais um exemplo, está na disciplina de Ensino Domestico no Ensino Fundamental que corresponde a atividades de educação financeira, culinária, gerência dos afazeres domésticos, etc. que dá ao aluno a oportunidade de reconhecer-se como co-participante de uma instituição doméstica, familiar, co-responsável pelos cuidados com sua casa e família.

Quais as maiores críticas sobre este modelo oriental?

Do ponto de vista ocidental, alguns estudiosos criticam o sistema educacional japonês por reprimirem a criatividade, a iniciativa e a individualidade, por ignorar as personalidades e necessidades individuais das crianças.
É comum ver escolas no Japão não sabendo direito lidar com o aluno diferente: seja com deficit cognitivo, seja com alto QI ou problemas emocionais. Imagina com estrangeiros?
Quando a família aceita um pedido de encaminhamento para avaliação (o que não é comum), geralmente a criança é encaminhada para uma "escola especial".
Não há psicopedagogos no país, nem a psicologia escolar. Algumas escolas possuem um profissional com cargo de Conselheiro.
É claro que já existem escolas buscando um equilíbrio, unindo valores ocidentais e aprimorando as suas práticas, garantindo a coletividade, mas também lidando melhor com as individualidades.

Um estranho no ninho

Sob esta perspectiva do grupismo japonês podemos refletir sobre a inserção de um brasileiro na escola japonesa. Ele é diferente, seja em aspectos físicos ou culturais/ comportamentais. 
Para ser integrado num grupo um aluno estrangeiro passará por momentos importantes de adaptação e enquadramento a algumas, senão muitas condições.
Professores e famílias precisam estar preparados e ajudar esta criança ou jovem, senão eles facilmente podem ser vítimas de exclusão, preconceito e isolamento.
É possível superar, encontrar um ponto de equilíbrio, mas é preciso estar atento, conhecer a realidade e dar suporte.

A busca pelo equilíbrio

Para finalizar o texto, estou certa de que este é um assunto complexo e que merece mais dados de discussão. A idéia foi apresentar um panorama geral, baseado em pesquisas e em observações, oferecendo dados para que cada família possa agir nesta realidade com um olhar mais apurado para o contexto cultural, descobrindo suas próprias estratégias para a busca do equilíbrio ideal para si.
Sabemos que tudo nesta vida tem os prós e contras a depender do contexto. Ao conhecê-lo melhor, temos mais habilidade para lidar com ele.
E, creio eu, que nós brasileiros temos muito o que aprender com os japoneses (e vice-versa) tendo o discernimento de descobrir o ponto de equilíbrio entre as duas culturas.

Gambatte kudasai.


Referências:


NITOBE, I. Bushido: the soul of japan. Disponível em <http://www.gutenberg.org/files/12096/12096-h/12096-h.htm> acesso em 17/10/2004
TOBIN, J.J. Educação Infantil em Três Culturas: Japão, China e Estados Unidos. São Paulo: Phorte, 2008













terça-feira, 14 de outubro de 2014

Homeschooling, uma opção para quem não quer colocar o filho pequeno na escola

O movimento "homeschooling" ou em português Ensino Doméstico existe há décadas em diversos países, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália. Os motivos que levam os pais a educarem seus filhos em casa são diversos: baixo nível educacional das escolas, motivos de ordem religiosa, ambiente degradado das escolas para desenvolver o caráter, oposição aos valores ensinados nas escolas e questões práticas, como dificuldades de deslocamento, falta de vagas em boas escolas, moradias temporárias em outros países, cuja língua não se domina, etc.

Esta pode ser uma opção para famílias no Japão, principalmente se sabem a data de retorno para o Brasil. Mães, pais, avós ou outros cuidadores que gostam e podem se dedicar ao processo de educação da criança em casa, podem ser os protagonistas do processo. Mas é preciso tempo, investimento e preparo para isso. 

Este texto pretende dar dicas sobre a educação doméstica no universo da educação infantil, para crianças entre 0 a 5 anos.

Como fazer o Ensino Doméstico no Japão?

1o) Faça um planejamento

Pesquise sobre as características da idade do seu filho, o que é esperado para esta faixa etária e que tipo de brinquedos e jogos educativos são normalmente utilizados.
Faça uma rotina educativa durante a semana, mas não seja rígido. Atue respeitando o tempo e os desejos da criança.

2o) Prepare "cantinhos temáticos" visando o desenvolvimento integral da criança 

A UNESCO desenvolveu uma proposta de educação integral, propondo a divisão didática de atividades educativas que desenvolvam habilidades pessoais (auto cuidado, responsabilidade, autonomia, valores e princípios humanos, etc), habilidades sociais (respeito e convivência harmônica com a natureza e a sociedade, etc), habilidades produtivas (desempenho motor, criatividade, expressão, etc) e habilidades cognitivas (raciocínio lógico, atenção, memória, etc.).
Com este modelo utilizado no universo das instituições educativas é possível estruturar "cantinhos" de brinquedos e jogos em casa que estimulem estas habilidades. Por exemplo:
"Cantinho das habilidades cognitivas": jogos de cartas com número, blocos de montar, bola ao alvo com números de pontuação, cadernos de atividades Kumon ou Gakken ou outras marcas fáceis de se comprar em papelarias japonesas, relógios de papéis, ente outros.
"Cantinho das habilidades produtivas": fantasias, máscaras, kit artes plásticas (giz de cera, tesoura, papéis diferentes, sucata, tinta, pincéis, argila, biscuit, massinha), brinquedos esportivos como corda, bolas, argolas, etc. e brinquedos para expressão musical. Todos possíveis de se comprar em lojas de ¥100.
"Cantinho das habilidades pessoais": dependendo da idade os materiais podem ser diversificados. Mas para citar exemplos, existem livros que ajudam a criança a aprender a abotoar, fechar zíper, cinto, etc, outros que tratam sobre o auto cuidado (em banheiros, para alimentar). Brinquedos para brincar de casinha ou fazer comida, bonecos. Um kit de alimentação autônoma também ajuda. Talheres, pratos, forro de chão, cadeira que ajusta na mesa, todos favorecem uma aprendizagem lúdica. Também existem materiais didáticos para ensinar valores. No meu caso comprei no Brasil um kit de formação cristã para maternal. Vem kit de desenho, CD de música e orientação para pais. É mais uma opção.
"Cantinho das habilidades sociais": brinquedos e jogos que contenha animais e bonecos, onde seja possível criar histórias de convivência, entre outros. Maquetes feitas por vocês também tornam-se brinquedos.
Esta habilidade é desenvolvida durante as relações e experiências com o mundo e a natureza. Então, apresente o mundo e a natureza para a criança. Saia de casa e ajude-a a descobrir que ela faz parte de um sistema. Aproveite situações do cotidiano para refletirem sobre cidadania.
O Japão é um lugar ótimo para isso! A rua é limpa (pergunte quem limpa a rua?), as pessoas esperam em fila (para que servem a filas? E se a gente não respeita-las?), pais ajudam o trânsito em frente às escolas (por que as pessoas se ajudam?), um objeto perdido na rua é devolvido ou, geralmente, não é pego (pergunte por que não podemos pegar algo que não é nosso?), e por aí em diante.  Faça pique niques em parques e limpe o local depois de terminado. É divertido e um ótimo passeio para as crianças respeitarem a natureza!

3o) Leve a criança para oficinas educativas semanais, se possível.

Aulas de natação, ginástica, música, futebol, etc. Todas as oficinas artísticas e motoras são excelentes para contribuir para o desenvolvimento geral da criança.
Aulas de línguas também podem ajudar no desenvolvimento do cérebro, englobando diversas aprendizagens. É possível explorar nesta idade.

4o) Leve a criança para parques e brinquedotecas públicas existentes em muitas cidades do Japão. 

Museus de Ciência, Jardins Botânicos, Zoológico e exposições artísticas também podem ser inclusas na programação. Quando não são gratuitas, o preço da entrada geralmente não é alto.
Busque informações no site da prefeitura da sua cidade. Mesmo que não leia em japonês ou inglês, peça a tradução de algum tradutor online.

5o) Procure dicas sobre letramento em português para que a criança se familiarize com a língua e se prepare para a alfabetização no futuro.

No Japão já existem profissionais e instituições que também podem auxiliar neste processo. Veja a série de postagens sobre letramento e alfabetização no Japão feitas neste blog.

6o) Considere as preferências do seu filho e invista nela. 

Quando há desejo e motivação para aprender, o pai-educador deve logo incentivar e dar novas oportunidades nesta área para o aprimoramento.

Há muitos desafios e controvérsias sobre o Homeschooling. Algumas pessoas temem deficiências no desenvolvimento das habilidades sociais, outras na qualidade da postura dos pais- educadores, que deve ser amorosamente firme, estabelecendo regras e limites, sem injetar uma dura carga de pressão.

Seja como for, esta é mais uma opção para mães no Japão. Como tudo, há pontos positivos e negativos, só sabe da melhor opção a própria família.

Para mim vem funcionando. Matriculei meu filho numa escola japonesa de meio período aos 4 anos de idade só para complementar a parte da sociabilidade e o aprendizado de línguas, já que eu não sei quanto tempo mais fico por aqui e não temos muitos amigos com criança na cidade em que moro para ele brincar (o que era um desejo dele). Mas continuo com os estímulos de desenvolvimento integral nos outros horários.

E para a família que trabalha em período integral e tem pouco tempo com os filhos, é possível adaptar esta proposta?

Sim. Primeiro esta criança deve estar na creche durante o tempo de trabalho dos pais. Sobra-se, assim, pouco tempo para a família estar junto, tempo em que deve ser investido em momentos de qualidade para o bom desenvolvimento da criança: afeto, diálogo, brincar junto, fazer carinho, etc. De forma livre na maioria das vezes, mas tbm pode ser de forma orientada, propondo um pouco de atividade formalizada, de brincadeira educativa, como por exemplo jogos de raciocino lógico, atividades de kumon, jogos de preparação para alfabetização. Todos de forma lúdica, brincando para complementar a escola que ela já vai, de acordo com o tempo e interesse da criança. 
Pode-se também reestruturar os brinquedos em casa pensando na lógica de educação integral que foi falado, garantindo sempre estímulos construtivos.
Mas não se deve exigir muito, pois ela já participa de uma rotina escolar.
No entanto, é muito proveitoso fazer isso (de forma natural) uma vez que muitas pesquisas já comprovaram que filhos que brincam e estudam com os pais tem melhor rendimento escolar.
Não deixa de ser um Ensino Doméstico e uma boa proposta para passarem o tempo de descanso de forma lúdica, afetiva e entre família.

Para finalizar, veja as dicas do site abaixo sobre as melhores brincadeiras para cada faixa etária. Você pode ver esse e muitos outros pesquisando na internet.
http://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2014/02/melhores-brincadeiras-para-estimular-o-desenvolvimento-do-seu-filho-por-idade.html

Faça o melhor possível para o seu filho!

Gambatte kudasai!




Matriculei meu filho pequeno numa escola japonesa, como ocorre e como eu o ajudo na adaptação?

Quer ver um coração apertado e uma sensação de impotência, quando não seguido de culpa, é ver uma mãe deixando o seu filho na escola nos primeiros dias de aula.
Lidar com a separação e com tantas inseguranças num país e numa escola onde há dificuldades na comunicação e diferenças culturais é um processo que costuma ser muito desgastante.
Baseado em experiências de mães aqui no Japão e nos suportes de teorias psicológicas serão apresentados alguns panoramas e algumas dicas que também servem para famílias cujos filhos cursarão escolas brasileiras ou internacionais.
Analise com cuidado e faça as suas adaptações, de acordo, sempre com o seu coração e os seus valores.

- Como acontece o período de adaptação na escola japonesa?
Geralmente as escolas possuem um programa gratuito de atividades mensais ou quinzenais para crianças não matriculadas e suas mães durante o ano letivo. Procure saber se a sua escola de preferência oferece este programa e tente participar. Tanto mães e crianças tem a oportunidade de se familiarizar com a escola um ano antes de sua entrada. Isto facilita a adaptação no primeiro dia de aula.
Algumas escolas também aceitam cuidar e brincar com crianças não matriculadas em períodos do dia recebendo uma taxa por hora. Seu filho pode começar a frequentar a escola 1 vez por semana, por exemplo, na sua presença e depois sem. Assim, ambos também podem acostumar com o ambiente escolar e com pequenos períodos distantes entre si. Pouco a pouco a adaptação ocorre.
Caso não consiga participar destes programas leve o seu filho para visitar a escola antes do 1o dia de aula. Explique como funciona, mostre os lugares para brincar, seja positiva e encorajadora. 
Uma vez matriculado e chegado o 1o dia de aula, geralmente as escolas recebem os alunos na primeira semana durante um período menor do que um dia normal (por exemplo, das 9:30 às 11:30h, ao invés de ir até 14h, no caso de yuchien). Sem os pais. Ou seja, a criança já fica sozinha no 1o dia. 
Se ela já tiver conhecido esta escola antes a possibilidade dela ficar bem (mais segura, curiosa e ansiosa para conhecer a escola e brincar) é maior. 

- Como procedo nos primeiros dias de aula?
A ansiedade de separação é normal. Ambos criança e pais, geralmente as mães, sentem vontade de chorar. Há muitos medos envolvidos nesta separação. Mas é extremamente importante que o adulto mantenha uma postura amorosamente firme e encoraje a criança. Diga que acredita que ela é capaz de fazer novos amiguinhos, que vai se divertir brincando, que o tempo sem a mamãe é curto, que vai passar rápido, etc. Depois que a criança entrar, vire as costas e chore, se quiser!!! Mas demonstrar segurança na frente do seu filho é extremamente importante e saudável!
E, sobretudo, busque seu filho no horário estipulado. Não atrase nem um segundo, se possível. Criança pequena tem pensamento concreto. Se os amigos começam a ir embora e não tem ninguém para buscá-la a ansiedade aumenta significativamente, com medo de ser abandonada. É bem possível que ela não queira voltar no dia seguinte.
Receber a criança com alegria depois da escola também pode ajudar. Mostre entusiasmo pelas novas descobertas dela. Faça perguntas sobre a escola. Se a criança não quiser ou puder falar não force, apenas mostre que a família está feliz com esta nova etapa da vida dela.

- Como fico sabendo se meu filho está se adaptando?
No final de uma semana de aulas tente conversar com o professor, perguntando sobre o seu filho. Se ele tem chorado, se tem feito as refeições. Crianças que não comem na escola possivelmente ainda não se acostumaram com o ambiente novo.
Pergunte se ela já consegue brincar livremente ou participar das atividades orientadas pelos professores. Se a resposta for afirmativa a criança está progredindo bem. Se for negativa seja paciente, será preciso mais tempo para ela se sentir à vontade na escola e interagir.
Continue elogiando em casa. Mostre exemplos de outras crianças que também estão indo para a escola. Assista junto um pouco de desenho educativo de crianças na escola (como por exemplo o Cid o Cientista).
Muitas vezes a família na ânsia de saber como foi a escola faz a seguinte pergunta: "como foi a escola?". Algumas crianças não conseguem responder por ser tão ampla e subjetiva a questão. Tente fazer perguntas específicas do tipo: quem sentou do seu lado hoje? O que te fez rir hoje? Aconteceu algo que te deixou triste? Existe algum coleguinha que você não quisesse que sentasse ao seu lado? Por que? O que ele fez? Você dançou hoje? Brincou no parquinho? Etc.
Combine com a escola algum dia chegar mais cedo e entrar para observar seu filho brincando. Evite ser percebido por ele. É uma forma de vê-lo na escola e confortar o coração!
Outra opção é pedir à coordenação que filme ou tire fotos dele e te mostre para você ver como ele está evoluindo dentro da escola.
Mas é claro, não abuse destas estratégias, pode atrapalhar os professores e fomentar a insegurança entre vocês.

Outras dicas para criar empatia entre escola, criança e família também podem ser dadas
Uma relação amistosa entre vocês ajuda no desejo de cuidar com carinho da criança e no processo de adaptação durante todo o ano. Analisem o caso de vocês e aproveitem!

- vá em todas as reuniões e participe dos eventos de familiares. Leve um amigo interprete se possível;
- seja pontual;
- apresente-se bem vestido (cuide da estética). 
Japoneses, em especial, gostam e valorizam a disciplina. Mostrar à escola que você também se esforça para se adequar à cultura e que é uma pessoa educada eleva a motivação deles em ajudá-los. 
- elogie e agradeça a professora pelo esforço em ajudar o seu filho. Elogiar é uma forma de reconhecimento e motivação para que o professor continue ajudando o seu filho.
- leve um presentinho à professora uma vez ao ano. Japoneses costumam trocar presentes como forma de agradecimento e respeito.
- mostre-se sempre aberto para diálogo sobre o processo educativo com o seu filho;
- pergunte, de vez em quando, como ele está se desenvolvendo na escola (Brinca com colegas? Já fala algumas palavras em japonês? Mostra-se contente? Participa das atividades?)
Normalmente as famílias japonesas não se envolvem nas questões educativas da escola e vice-versa. É uma cultura que prejudica muito o projeto de desenvolvimento da criança, pois há pouca parceria entre família-escola.
No Brasil é diferente, pais e coordenadores conversam sobre o desenvolvimento da criança, trocando ideias e dando conselhos. Não se acanhe neste sentido, seja pró ativa e sutilmente, com muito respeito e humildade, faça perguntas à professora de vez em quando.

Não há receitas prontas na jornada da adaptação. Levante a antena do coração e siga os seus passos.

Gambatte Kudasai!






Qual escola no Japão levo o meu filho?

Eis um momento muito angustiante em que quase todas as famílias brasileiras passam quando moram aqui no Japão. A hora de pensar em qual escola matricular o filho e como ajudá-lo a se adaptar.
Há famílias que tem diversas opções: escola brasileira, escola internacional e a própria escola japonesa (yuchien - jardim de infância, de meio período; ou Hoikuen - creches de período integral), dependendo da região em que mora. Mas também há aquelas que não possuem nenhuma escolha, a não ser a escola japonesa.
Esta matéria pretende ajudá-los, neste momento, a se preparar para a etapa da escolha com perguntas que podem ser discutidas em família, antes da tomada de decisão:

1) Quanto tempo pretendemos ficar no Japão?

Se a resposta for um tempo bem curto é interessante matricular seu filho em escola brasileira ou internacional, assim ele continua com a aprendizagem em português ou, ao menos, em inglês que é uma língua universal. Além de continuar convivendo com a cultura brasileira ou com diversas culturas neste pequeno período em que a família ficar no Japão.
Se a resposta for um tempo mais prolongado (de médio a longo prazo), a família tem muito o que discutir. Mas é importante levar em consideração que esta criança precisará aprender a língua japonesa e um pouco desta cultura para poder sobreviver no país, dando sequência nos estudos e até nos trabalhos futuros aqui.
Diminuir as chances dela ser vítima de preconceitos também é importante. Uma criança que se esforça para falar e se comportar conforme a cultura japonesa é melhor aceita pelos grupos de japoneses.
É preciso entender que o japonês dá muita importância para a harmonia e igualdade nos comportamentos. Aqui "prego que se destaca é martelado", como diz o ditado popular! Então preparar o seu filho para saber se comportar e se comunicar no Japão (sem retirar dele a sua essência, sua própria cultura) é um desafio que pode valer a pena. Aprender a se adequar nos diferentes lugares e culturas é uma competência que vai lhe ajudar em qualquer situação da vida, em qualquer lugar onde ele estiver.
Então, seja em qual escola a criança estiver - brasileira, internacional ou japonesa - caso a família pretenda ficar um tempo maior no Japão, ela precisa garantir a aprendizagem da língua oral e os costumes daqui. Nem se for, ao menos, com aulas extras particulares.

2) Caso minha escolha seja uma escola que não fale português, como saber se ela está preparada para receber meu filho estrangeiro, que não fala e nem entende a língua falada na escola?

A resposta para esta pergunta depende de um processo de investigação que a família pode fazer. É muito importante que pelo menos um dos pais visite algumas escolas antes de matricular o filho (informe-se na prefeitura sobre boas escolas perto de sua residência).
Sinta o clima da visita, se houve bom acolhimento, se os professores se sentiram confortáveis com a presença de vocês, se vocês e, especialmente a criança, se sentiram confortáveis também.
Faça perguntas (com ajuda de um intérprete, se puder e precisar) sobre a história da escola com estrangeiros, sobre como eles lidam com crianças diferentes, sobretudo se ela fosse "surda e muda" como é o caso de uma criança estrangeira que não fala a língua da escola no início.
Perceba se a escola tenta se comunicar com o seu filho com gestos, mímicas, exemplos, estímulos visuais. Estas são boas estratégias no início para lidar com ele, até aprender a se comunicar basicamente na língua local. Os professores da escola precisam mostrar desenvoltura e segurança para que a família comece a perceber que eles estão prontos para recebê-los e que podem trilhar esta jornada juntos.

3) Mas eu não falo inglês, nem japonês e não tenho intérprete. Como faço essas perguntas para a escola?

Não se acanhe! Nesta aventura de morar no Japão tudo vale a pena! Se não há mesmo como pedir ajuda à algum "vizinho" ou colega de trabalho, poste uma mensagem no grupo do facebook chamado SOS Mamães no Japão e peça por ajuda. Veja se tem alguém perto de você disponível para ajuda fisicamente ou, ao menos, por telefone. Você vai na prefeitura e na escola e liga para a voluntária num horário agendado. Ela talvez poderia fazer as traduções para vocês.
É possível encontrar pessoas solidárias na comunidade!
Quando o assunto é filho, toda mãe vira leoa!!!

4) Uma vez decidida a escola, como investigo sobre o que ela ensinará para o meu filho?

Pergunte sobre a rotina da escola: quais atividades ela oferece em cada dia da semana; por quanto tempo; quanto tempo eles dão para brincadeira livre; como eles dividem as atividades em um dia de aula.
Pergunte também detalhes específicos de sua curiosidade, como por exemplo: se uma criança não quer brincar junto com os colegas, o que vocês fazem? Se ela não quer comer, como vocês lidam? Se ela não quer fazer as atividades orientadas, o que fazem? Percebam como elas tratam as crianças e sintam se está de acordo com os seus valores.
Nem sempre as estratégias são as nossas preferidas, mas os valores humanos nas relações dentro de uma escola precisam ter sintonia com os seus.

5) Queria ver de perto as escolas funcionando e lidando com as crianças para ter certeza da minha escolha, é possível?

Sim, é possível, caso você comece a procurar a escola com antecedência. A maioria delas possui um programa de atividades para crianças que não são da escola mais um cuidador (na maioria dos casos é a própria mãe que participa) mensalmente. Vocês podem participar nas escolas que preferirem e com isto vão se acostumando à escola e conhecendo o ritmo dela.
Existem também eventos abertos, como gincanas, bazares, etc. Procure saber na escola o calendário para você poder participar. Observe e interaja. Se possível, pergunte às famílias presentes o motivo pelo qual escolheu aquela escola e não outra para matricular o filho.

Espero poder ter contribuído para esta difícil etapa da escolha. Em breve será tratado o assunto como ajudar na adaptação da criança pequena dentro da escola, no Japão.

Lembrem-se que no processo de formação de um ser humano não há verdades absolutas. Cada um está livre para decidir como protagonizar este processo. O caminho de sucesso de um não necessariamente é o mesmo do outro. Por isso siga o seu coração, seja firme em seus princípios e valores e construa sua rota, lembrando-se sempre que esta criança que você cuida poderá ser um adulto feliz, maduro, ativo e sociável a depender também, dos estímulos e acompanhamento que a família dá.

Gambatte kudasai!