sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Kit escolar da escola infantil japonesa

 Você conhece o kit escolar para as escolas infantis? São eles: Bolsa grande para trazer livros semanalmente, chapéu com broche identificando a escola, sapatilhas de uso interno, bolsa porta sapatilhas (para levar para limpeza esporadicamente), almofada para as pequenas cadeiras e porta utensílios para o almoço. Algumas ainda requerem o uniforme.
Geralmente as mães preparam o kit, com conjuntos combinando, comprados em lojas de departamento infantil ou confeccionam com muito capricho.
Os materiais de papelaria estão inclusos na mensalidade. Não há apostilas educativas ou de orientação ao professor de educação infantil.
Só sinto falta da inclusão obrigatória da escova de dente no kit! Mas como nada é perfeito, nós brasileiros ajudamos nesta cultura da higiene bucal!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Processo educativo de brasileiros no Japão

Pesquisa de programa de pós doutorado da UNICAMP fala sobre o processo educativo dos brasileiros no Japão (que vão além do sistema escolar) apontando consequências que levam a integração, marginalização e ao conflito social. O estudo trata da característica geral dos brasileiros no Japão, o processo educativo no trabalho, o processo educativo na vida cotidiana, lazer e cultura e a educação de crianças no Japão.
Aqui trago um resumo comentado do artigo, mapeando o perfil da maioria dos brasileiros no Japão como introdução e o processo de educação de crianças neste país, incluindo as dificuldades de adaptação, já que o maior interesse neste blog é de ajudar famílias a criarem seus filhos no Japão.
Mas vale a pena uma leitura e uma reflexão sobre os outros tópicos, uma vez que só é possível ajudar a criança a se adaptar se os adultos familiares estão também neste esforço de adaptação, mantendo um ambiente harmônico, otimista e em sintonia.
Apesar da pesquisa ter sido realizada em 1995 muitos dos assuntos discutidos e das experiência relatadas são ainda atuais na comunidade brasileira no Japão.
Sem dúvida ainda é um contexto atual.

O perfil dos brasileiros no Japão 

A maioria dos brasileiros que estão no Japão, de acordo com Kawamura (1995), são descendentes de japoneses, de primeira e segunda gerações (nissei e sansei) favorecidos com a alteração da legislação japonesa em junho de 1990 que abriu a imigração de descendentes estrangeiros sem nenhuma qualificação prévia para suprir as necessidades de mão de obra das pequenas e médias empresas industriais e de serviço.
Atualmente a maioria dos brasileiros que estão no Japão, além de serem descendentes de japoneses, inclusive mestiços, são homens e mulheres com formação escolar e cultural variada e com graus diversos de experiência profissional e familiaridade diferenciada com a língua e os costumes japoneses. 
E, mesmo que tenham recebido influência dos familiares japoneses, estes aprenderam palavras, costumes e valores do Japão Antigo (Era Meiji), com sotaques e tradições regionais fora de uso no Japão atual.
Conforme uma pesquisa do Centro de Estudos nipônicas-brasileiros de São Paulo, cerca de 60% dos brasileiros que foram ao Japão recebiam de 1 a 5 salários mínimos (Mori, 1991).

Trata-se aqui, portanto, de pessoas que foram ao Japão buscar oportunidades profissionais para ganhar dinheiro, mesmo em serviços desqualificados, desgastante e com alta carga horária, tornando este o foco de sua permanência e sobrevivência no país.
Com dificuldades nas habilidades profissionais, culturais e de idioma os brasileiros no Japão enfrentam uma série de desafios para se adaptar.

O processo de educação de crianças neste pais

Observa-se um grande número de famílias brasileiras no Japão, muitas delas acompanhadas com crianças.
Estando os pais a trabalho, as crianças menores de 7 anos ficam nas creches durante o período do dia. Sendo estas crianças mais flexíveis à socialização e a creche ser um local de lazer e cuidados, o processo de integração é mais facilitado. Há um rápido aprendizado da língua  japonesa, de alguns costumes e regras escolares.
As crianças em idade escolar, a partir dos 6 anos são matriculadas em escolas públicas mantidas pela prefeitura. Apesar de crianças estrangeiras não serem obrigadas a frequentar a escola, a maioria está matriculada.
Elas estudam em classes regulares, assistem horas de aulas em língua desconhecida, sobre um conteúdo ainda mais desconhecido, com métodos de ensino bem diferentes daqueles que estavam acostumadas.
Em geral as regras e costumes, avisos e cobranças são feitos na língua japonesa, desconhecida pela maioria das crianças recém chegadas ao Japão.
Raras são as escolas que disponibilizam recursos, métodos ou pessoal qualificado para atender a esta demanda.
Os deveres escolares aos alunos estrangeiros são cobrados com o mesmo critério, com algumas adaptações, que para o conjunto dos demais alunos.
Nas escolas, as crianças brasileiras dependem do esforço individual do professor. 
No caso de algumas escolas cujo número de estrangeiros é alto pode-se encontrar alguns serviços especiais, como classes especiais de ensino da língua japonesa e de brincadeiras japonesas.
Existe também aulas especiais, organizadas por algumas prefeituras, de português e conversação de temas livres para professores e voluntários como estratégia de solução de emergências provisórias nas escolas.
A maior parte das atividades destes professores e voluntários tem sido a de intérprete para crianças, pais e funcionários das escolas para mediar situações relacionadas a vida escolar. Esta é uma medida que ajuda, mas não é totalmente eficiente, uma vez que tanto aluno, quanto famílias precisam esperar para resolver seus problemas, adiando soluções, muitas vezes inadiáveis e que poderiam ser resolvidos pelos próprios alunos. E isso, na maioria das vezes, amortece o problema, camuflando os conflitos reais da comunidade estrangeira.
O contato sistemático e obrigatório das crianças com um currículo voltado para a formação de cidadãos japoneses, enfatizando os conhecimentos, a disciplina e a ética da sociedade nipônica, traz dificuldades aos alunos brasileiros. Muitas das dificuldades se expressam na não adequação dos valores e costumes japonesas. Por outro lado, esta situação pode possibilitar o aprendizado de novos padrões culturais, a reorientação de seus valores e costumes auxiliando no seu desenvolvimento posterior.
O currículo do curso primário contém as disciplinas: matemática, língua japonesa, ciências, estudos sociais, educação física, estudos ambientais, vida cotidiana, conhecimentos domésticos, educação moral, artes e música. As crianças brasileiras nesta etapa costumam ter mais dificuldades, devido a não fluência do idioma e da complexidade dos assuntos, nas disciplinas de língua japonesa, ciências e estudos sociais (história e geografia). As demais não exigem conhecimentos precisos da língua e, portanto são mais fáceis de assimilar.
Outra dificuldade encontrada tem sido a adaptação com a alimentação. Na escola elementar os alunos almoçam na escola pratos japoneses, estranhos ao paladar da maioria das crianças brasileiras, especialmente àquelas que mantêm suas refeições em família, extra escola, com comida brasileira.
Em relação à sociabilidade, crianças brasileiras costumam preferir se relacionar na escola com outros alunos brasileiros pela facilidade de comunicação, sintonia de valores e costumes. Aos poucos passam a se relacionar com colegas japoneses, favorecidos pelo sistema adotado pelas escolas de agregar grupos que moram perto para irem e voltarem à escola, além de levantarem líderes responsáveis por comunicar problemas. Isso facilita a integração dos brasileiros aos colegas japoneses.
Em séries mais avançadas ocorrem com maior frequência delatos de alunos brasileiros de sensação de discriminação pelos colegas japoneses, expressos na forma agressiva ou despreziva de estes se relacionares com aqueles. Na não inclusão dos brasileiros nas brincadeiras, nas desconfianças, etc.
Por outro lado, nesta idade, também os alunos brasileiros voltam a permanecer em grupos de crianças brasileiras, falando em língua portuguesa, fazendo brincadeiras entre si, tendo comportamentos e atitudes desconhecidas e até mesmo indesejáveis pelas crianças japonesas, levando à segregação e dificuldades de integração sócio cultural.
Algumas escolas incluem esporadicamente em suas festividades alguma troca de aspecto cultural típico brasileiro para que os alunos incorporem, aceitem, respeitem e se integrem nas diferenças culturais.
No curso ginasial os alunos brasileiros encontraram maiores dificuldades em todas as disciplinas, no geral, devido a complexidade das matérias e uso de termos técnicos pelos professores durante a explicação em aula.
Outro aspecto importante de adaptação das crianças refere-se ao sistema organizacional e disciplinar da escola. O fato de ter que fazer tarefas de limpeza da escola (reflexo da cultura que valoriza a postura de "limpar o que se suja") choca com os valores brasileiros que associam este serviço ao trabalho braçal desqualificado, feito por um faxineiro e não por um aluno. No entanto, os estudantes rapidamente se adaptam a este sistema por não ter necessidade da linguagem para execução das tarefas.
Ainda quanto à organização e à disciplina, o rigor de algumas escolas na cobrança dos deveres e do material necessário nas aulas acarretam em sanções aos alunos brasileiros ao não cumprimento dos deveres escolares, assustando-os e, às vezes interferindo na assiduidade à escola. Contudo, os alunos brasileiros sentem-se limitados e expostos a situações de falta dos deveres e de materiais, pelo fato dos pais não conseguirem ler os avisos da escola, periodicamente enviados às famílias e, assim, não conseguirem tomar as providências necessárias à tempo. 
Além disso, pelos mesmos motivos e pela falta de tempo devido ao trabalho ou por desconhecimento da matéria, os pais não podem auxiliar nas tarefas escolares dos filhos, como fazem as mães japonesas. 
Em outros casos os alunos não levam os materiais à escola por esquecimento ou até displicência. 
As escolas japonesas não deixam de fazer aplausos e repreensões às atitudes de disciplina, compromisso, obediência, esforço e respeito à hierarquia dos alunos. Estes são valores provenientes do modelo japonês requerido para o trabalho e o bom funcionamento da sociedade.
Toda esta influência do sistema escolar japonês, sobretudo na criança que começa desde cedo, influencia na mudança de comportamento e hábitos culturais da criança brasileira. Muitas começam, com o passar do tempo, a falar mais japonês do que português, passando a conversar em casa, entre irmãos na língua japonesa, uma vez que este torna-se o idioma mais falado durante o dia. Na proporção em que a maioria dos pais não conhece a língua japonesa, essa mudança vem afetando o relacionamento entre pais e filhos.
Tais crianças terão que enfrentar um processo de readaptação escolar e social quando retornarem ao Brasil.
Contudo, mesmo com as dificuldades mencionadas, os aspectos da formação integral da educação japonesa poderão facilitar e enriquecer o seu processo educativo no Brasil, não só pela elevada qualidade do conteúdo, mas principalmente por permitir ao aluno fazer comparações e refletir sobre alternativas diferentes.

Conclusão 

Finalizando, vimos aqui uma pesquisa que revela as principais dificuldades de adaptação dos alunos brasileiros na escola japonesa: fluência no idioma; compreensão de conteúdos e métodos diferentes; entendimento de regras, avisos e cobranças feitas somente em japonês; tolerância a altas cobranças e rigor dos professores; amortecimento dos problemas, pela demora na ajuda com a participação de intérpretes; aceitação de valores, costumes e sistema organizacional (limpeza) e disciplinar da escola; alimentação; realização dos deveres escolares; ausência dos pais no suporte às questões escolares; sociabilidade e problemas de comunicação entre pais e filhos, quando esses passam a falar mais japonês do que a língua materna em casa.
Para não avolumar os problemas relativos à educação das crianças no Japão (evasão, dificuldades de adaptação, problemas de readaptação no retorno ao Brasil, etc) a autora da pesquisa diz ser necessário que exista mais profissionais da educação para suprir lacunas curriculares, possibilitando uma transição menos traumáticas (tanto para estudar no Japão, quanto para retornar ao Brasil). Também há sugestões de reforço especial para os processos de reintegração cultural, mas isso depende do grau de mobilização da sociedade civil e do entendimento de órgãos governamentais e não-governamentais dos dois países.

Atualmente existem programas de auxílio à criança estrangeira no Japão, oferecendo serviços gratuitos ou não de reforço escolar, intérprete e readaptação cultural, ensino da língua materna, psicologia, entre outros. Mas ainda há muita necessidade, na minha opinião, sobretudo de realizar programas de prevenção de problemas de adaptação da criança nas escolas e com as famílias, antes que eles se instaurem.

Referências bibliográficas 

KAWAMURA, L. K. Processo educativo dos brasileiros no Japão. Disponível em <www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/1996/T96V2A11.pdf> Acesso em 2/2/2015

MORI, K. Transição dos dekasseguis provenientes do Brasil e considerações sobre alguns problemas. In: NICOMIYA, M. (Orgs.). Dekassegui: Estação Liberdade/ SBCJ, São Paulo, 1992.