terça-feira, 14 de outubro de 2014

Homeschooling, uma opção para quem não quer colocar o filho pequeno na escola

O movimento "homeschooling" ou em português Ensino Doméstico existe há décadas em diversos países, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália. Os motivos que levam os pais a educarem seus filhos em casa são diversos: baixo nível educacional das escolas, motivos de ordem religiosa, ambiente degradado das escolas para desenvolver o caráter, oposição aos valores ensinados nas escolas e questões práticas, como dificuldades de deslocamento, falta de vagas em boas escolas, moradias temporárias em outros países, cuja língua não se domina, etc.

Esta pode ser uma opção para famílias no Japão, principalmente se sabem a data de retorno para o Brasil. Mães, pais, avós ou outros cuidadores que gostam e podem se dedicar ao processo de educação da criança em casa, podem ser os protagonistas do processo. Mas é preciso tempo, investimento e preparo para isso. 

Este texto pretende dar dicas sobre a educação doméstica no universo da educação infantil, para crianças entre 0 a 5 anos.

Como fazer o Ensino Doméstico no Japão?

1o) Faça um planejamento

Pesquise sobre as características da idade do seu filho, o que é esperado para esta faixa etária e que tipo de brinquedos e jogos educativos são normalmente utilizados.
Faça uma rotina educativa durante a semana, mas não seja rígido. Atue respeitando o tempo e os desejos da criança.

2o) Prepare "cantinhos temáticos" visando o desenvolvimento integral da criança 

A UNESCO desenvolveu uma proposta de educação integral, propondo a divisão didática de atividades educativas que desenvolvam habilidades pessoais (auto cuidado, responsabilidade, autonomia, valores e princípios humanos, etc), habilidades sociais (respeito e convivência harmônica com a natureza e a sociedade, etc), habilidades produtivas (desempenho motor, criatividade, expressão, etc) e habilidades cognitivas (raciocínio lógico, atenção, memória, etc.).
Com este modelo utilizado no universo das instituições educativas é possível estruturar "cantinhos" de brinquedos e jogos em casa que estimulem estas habilidades. Por exemplo:
"Cantinho das habilidades cognitivas": jogos de cartas com número, blocos de montar, bola ao alvo com números de pontuação, cadernos de atividades Kumon ou Gakken ou outras marcas fáceis de se comprar em papelarias japonesas, relógios de papéis, ente outros.
"Cantinho das habilidades produtivas": fantasias, máscaras, kit artes plásticas (giz de cera, tesoura, papéis diferentes, sucata, tinta, pincéis, argila, biscuit, massinha), brinquedos esportivos como corda, bolas, argolas, etc. e brinquedos para expressão musical. Todos possíveis de se comprar em lojas de ¥100.
"Cantinho das habilidades pessoais": dependendo da idade os materiais podem ser diversificados. Mas para citar exemplos, existem livros que ajudam a criança a aprender a abotoar, fechar zíper, cinto, etc, outros que tratam sobre o auto cuidado (em banheiros, para alimentar). Brinquedos para brincar de casinha ou fazer comida, bonecos. Um kit de alimentação autônoma também ajuda. Talheres, pratos, forro de chão, cadeira que ajusta na mesa, todos favorecem uma aprendizagem lúdica. Também existem materiais didáticos para ensinar valores. No meu caso comprei no Brasil um kit de formação cristã para maternal. Vem kit de desenho, CD de música e orientação para pais. É mais uma opção.
"Cantinho das habilidades sociais": brinquedos e jogos que contenha animais e bonecos, onde seja possível criar histórias de convivência, entre outros. Maquetes feitas por vocês também tornam-se brinquedos.
Esta habilidade é desenvolvida durante as relações e experiências com o mundo e a natureza. Então, apresente o mundo e a natureza para a criança. Saia de casa e ajude-a a descobrir que ela faz parte de um sistema. Aproveite situações do cotidiano para refletirem sobre cidadania.
O Japão é um lugar ótimo para isso! A rua é limpa (pergunte quem limpa a rua?), as pessoas esperam em fila (para que servem a filas? E se a gente não respeita-las?), pais ajudam o trânsito em frente às escolas (por que as pessoas se ajudam?), um objeto perdido na rua é devolvido ou, geralmente, não é pego (pergunte por que não podemos pegar algo que não é nosso?), e por aí em diante.  Faça pique niques em parques e limpe o local depois de terminado. É divertido e um ótimo passeio para as crianças respeitarem a natureza!

3o) Leve a criança para oficinas educativas semanais, se possível.

Aulas de natação, ginástica, música, futebol, etc. Todas as oficinas artísticas e motoras são excelentes para contribuir para o desenvolvimento geral da criança.
Aulas de línguas também podem ajudar no desenvolvimento do cérebro, englobando diversas aprendizagens. É possível explorar nesta idade.

4o) Leve a criança para parques e brinquedotecas públicas existentes em muitas cidades do Japão. 

Museus de Ciência, Jardins Botânicos, Zoológico e exposições artísticas também podem ser inclusas na programação. Quando não são gratuitas, o preço da entrada geralmente não é alto.
Busque informações no site da prefeitura da sua cidade. Mesmo que não leia em japonês ou inglês, peça a tradução de algum tradutor online.

5o) Procure dicas sobre letramento em português para que a criança se familiarize com a língua e se prepare para a alfabetização no futuro.

No Japão já existem profissionais e instituições que também podem auxiliar neste processo. Veja a série de postagens sobre letramento e alfabetização no Japão feitas neste blog.

6o) Considere as preferências do seu filho e invista nela. 

Quando há desejo e motivação para aprender, o pai-educador deve logo incentivar e dar novas oportunidades nesta área para o aprimoramento.

Há muitos desafios e controvérsias sobre o Homeschooling. Algumas pessoas temem deficiências no desenvolvimento das habilidades sociais, outras na qualidade da postura dos pais- educadores, que deve ser amorosamente firme, estabelecendo regras e limites, sem injetar uma dura carga de pressão.

Seja como for, esta é mais uma opção para mães no Japão. Como tudo, há pontos positivos e negativos, só sabe da melhor opção a própria família.

Para mim vem funcionando. Matriculei meu filho numa escola japonesa de meio período aos 4 anos de idade só para complementar a parte da sociabilidade e o aprendizado de línguas, já que eu não sei quanto tempo mais fico por aqui e não temos muitos amigos com criança na cidade em que moro para ele brincar (o que era um desejo dele). Mas continuo com os estímulos de desenvolvimento integral nos outros horários.

E para a família que trabalha em período integral e tem pouco tempo com os filhos, é possível adaptar esta proposta?

Sim. Primeiro esta criança deve estar na creche durante o tempo de trabalho dos pais. Sobra-se, assim, pouco tempo para a família estar junto, tempo em que deve ser investido em momentos de qualidade para o bom desenvolvimento da criança: afeto, diálogo, brincar junto, fazer carinho, etc. De forma livre na maioria das vezes, mas tbm pode ser de forma orientada, propondo um pouco de atividade formalizada, de brincadeira educativa, como por exemplo jogos de raciocino lógico, atividades de kumon, jogos de preparação para alfabetização. Todos de forma lúdica, brincando para complementar a escola que ela já vai, de acordo com o tempo e interesse da criança. 
Pode-se também reestruturar os brinquedos em casa pensando na lógica de educação integral que foi falado, garantindo sempre estímulos construtivos.
Mas não se deve exigir muito, pois ela já participa de uma rotina escolar.
No entanto, é muito proveitoso fazer isso (de forma natural) uma vez que muitas pesquisas já comprovaram que filhos que brincam e estudam com os pais tem melhor rendimento escolar.
Não deixa de ser um Ensino Doméstico e uma boa proposta para passarem o tempo de descanso de forma lúdica, afetiva e entre família.

Para finalizar, veja as dicas do site abaixo sobre as melhores brincadeiras para cada faixa etária. Você pode ver esse e muitos outros pesquisando na internet.
http://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2014/02/melhores-brincadeiras-para-estimular-o-desenvolvimento-do-seu-filho-por-idade.html

Faça o melhor possível para o seu filho!

Gambatte kudasai!




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