quarta-feira, 29 de abril de 2015

Medo da escola?

As escolas, muitas vezes, são a causa primeira de desequilíbrios psicossomáticos nas crianças, você sabia? Mas, o que de fato gera medo nas crianças? Como os pais podem detectar problemas e ajudar os filhos? Veja este resumo bibliográfico e um apanhado de história clínica sobre crianças que tem medo da escola, com alguns detalhes referentes à experiência escolar no Japão, e busque ajudar seus filhos.

De onde vem o medo?

De modo geral, o medo é devido aos testes, notas, trabalho a entregar, professores rígidos, medo de desiludir os pais, os professores, de fazer novos amigos, de não ser aceito pelos colegas, de não ser escolhido para as atividades em grupo, de ser vítima de chacota, de não conseguir decorar as fórmulas, etc. Soma-se, ainda, nas escolas japonesas, o medo de ficar solitário por não conseguir se comunicar, medo de enfrentar os preconceitos, de sofrer bullying, de ser rejeitado, dos colegas agressivos, de professores agressivos, de não entender as explicações do professor, medo de não conseguir fazer toda a quantidade de tarefas de casa, de fazer os passeios extra-classe, de passar mal e não conseguir pedir ajuda...
Medos, enfim, de uma avaliação ou de uma dificuldade de desempenho e uma possível punição que pode vir de diversas formas e de diversas pessoas (pais, professores e colegas). Tal agressão simbólica, em termos emocionais, podem gerar agressões em seus sistemas orgânicos. De um suor nas mãos fruto da ansiedade e do medo, a criança passa, por exemplo, a sofrer de asma ou de vômitos.

Quais podem ser os sintomas?

Geralmente os sintomas são: diarreia, insônia, gaguez, apatia, falta de apetite, comportamentos agressivos, choro compulsivo, dores de cabeça, dor no estômago, crises de pesadelos noturnos constantes, comportamentos de regressão (volta a fazer xixi na calça, falar como bebe, etc.), irritabilidade exacerbada, medo constante de perder os familiares, diminuição do rendimento escolar, evita ir a certo lugares, sem motivo aparente, evita contato ou se esquiva de crianças na rua, nega-se a falar o idioma japonês depois da escola, demonstrando um certo repúdio, asma, vômitos, entre outros sintomas menos frequentes.

Quando a criança ou o jovem consegue verbalizar os medos e seus motivos ela dá um passo para o tratamento, ajudando os seus cuidadores a ajudá-la com diversas ações. Mas, quando ela não verbaliza, tudo fica ainda mais difícil. Por isso, os pais precisam ficar atentos nos comportamentos e sintomas.
 
E o que fazer?
 
- Fique atento aos comportamentos de seu filho e reconheça mudanças de padrão; 
- Mantenha diálogo com o filho, respondendo sempre às questões feitas por eles;
- Não exerça muita pressão sobre seus rendimentos. O esforço deve ser mais valorizado do que o resultado em si. O resultado é consequência do esforço e busca de alternativas e respostas aos problemas;
- Ofereça ajuda para as tarefas e estudos. Se não conseguir acompanhar as tarefas, busque um amigo ou profissional que dê suporte;
- Permita que seus filhos explorem seus medos por meio da fantasia e brincadeiras. Entre no jogo com eles, perceba os conflitos e conversem sobre eles, dando apoio;
- Mostre-se interessado pelo seu filho, acolhendo suas dores e medos. Não diminua seus sentimentos.
- Busque ajuda na escola, trocando informações e traçando estratégias em conjunto;
- Busque ajudas profissionais: médicos, psicólogos, psicopedagogos, etc.
- Seja paciente. Não há respostas e tratamentos únicos. Algumas crianças melhorarão rápido, outras de forma mais lenta;
- Se os desafios na escola ultrapassarem os limites dos direitos humanos, faça uma intervenção social, responsabilizando e exigindo posições das autoridades locais;
- Em desafios relativos ao ciclo da vida apenas apoie e encoraja seu filho, de modo a tornar-se autoconfiante para ultrapassa-lo e superar as dificuldades. 

Onde buscar ajuda profissional no Japão?

Veja alguns telefones de psicólogos, psicopedagogos e grupos de suporte emocional disponíveis no Japão para brasileiros:
LAL: 0120-662488 ligação e atendimento gratuito
SABJA:  050-68616400 atendimento gratuito
Clínica psicopedagogica e educacional Evolução: 080-32050272 
Psicóloga Carla Amaral: 0506860 8819/ Email: ccaba_psi@hotmail.com 

Gambatte Kudasai!

domingo, 5 de abril de 2015

Enfrentando os 1ºs dias de aula na escola

Dor da separação? Medo do 1o dia de aula? Criança chorando? Mães angustiadas? No Japão o ano letivo começa em meados de abril. Se você ou algum conhecido está passando por isso, principalmente na entrada das escolas japonesas, leia estas dicas:
 
Entendendo a dor da separação no ingresso escolar:
O ingresso numa comunidade escolar representa a primeira introdução oficial do filho na vida em sociedade de forma autônoma.  É o primeiro desligamento oficial do filho do ninho familiar para entrar na arena da vida, sem a proteção e controle dos pais. Esses sabem de alguns dos desafios pelos quais a criança vai passar (inclusive os de adaptação cultural, inclusão ou exclusão e dificuldades de comunicação no caso das escolas japonesas), sofrem por antecedência, ao mesmo tempo que resistem – as vezes inconscientemente - em romper o vínculo de dependência criado entre pais e filhos, sobretudo mãe-filho.
Esta separação momentânea somada com o desconhecido gera sensação de vazio, impotência e insegurança por parte dos pais que, além de terem que se reorganizar enquanto sujeitos que passam a ter tempo livre para fazer outras atividades (e não mais cuidar do filho), precisam acreditar na competência do filho de enfrentar e superar os desafios.
Em relação aos filhos o sofrimento acontece pelo medo do desconhecido, do novo. Todo ambiente que não seja familiar costuma ser assustador. Ficar sozinho com outros adultos e crianças, sobretudo que falam uma língua desconhecida e que se comportam culturalmente diferente dos pais torna-se ainda mais difícil.
 
O que os pais, especialmente as mães, podem fazer para superar a “dor” da separação?
As mães precisam se “refazer” depois que os filhos entram na escola. Se redescobrir, encontrar atividades que preencham o tempo em que ficavam com os filhos, descobrindo novas funções, papéis e habilidades, encontrando sentido para o período “livre”, sem a criança.
Precisam também tirar-lhes a culpa que geralmente lhes caem nos ombros de deixar o filho sozinho na escola (sobretudo se for um bebê) para trabalhar. Para isso, é necessário valorizar os ganhos que o filho terá permanecendo na escola e os ganhos da família estar trabalhando, prevendo e planejando o futuro.
Para compensar a distância é possível estabelecer um relacionamento de qualidade no tempo que lhes restam do dia para estarem juntos. Envolvam-se em atividades lúdicas, divertidas e prazerosas, onde seja possível diálogo e afeto. Assim, é possível perceber que não há mal em deixar a criança na escola, pois mais do que quantidade há qualidade no relacionamento.
 
Como preparar a criança para o 1º dia de aula?
Não faça muitas mudanças familiares ou de espaço em casa no mês de entrada do filho na escola. Para suportar o desligamento e tantas mudanças do processo é importante que o ambiente doméstico lhe dê segurança.
O primeiro dia tem que ser de alegria, elogios e valorização dos familiares. Precisa ser um dia de orgulho para todos e de conversas positivas e de encorajamento.
Pode-se contar experiências positivas dos pais e irmãos na entrada da escola, de modo a focar para o desligamento positivo e para a caminhada autônoma e segura.
Evite comportamentos de despedidas e sofrimento, como longos abraços e frase de pesar como “que pena” ou “mamãe vai morrer de saudade”.
Explique quem vai buscar, a que horas e em qual lugar e, sobretudo esteja na saída da escola sem nenhum atraso.
Diga a criança o que os pais e irmãos vão fazer no momento em que ele estiver na escola: vão trabalhar, estudar, limpar a casa, se preparar para depois poder ficar todo o tempo com a criança, de modo com que ela possa compreender que todos têm uma tarefa e aquele momento não é de estarem juntos.
Mantenham-se seguros, encarem o choro como um processo natural de desligamento, responda com um acolhimento confortante e encorajador, dizendo que compreendem o que eles sentem, mas que todos os colegas também estão passando por isso e que tem certeza que vai passar.
E, só depois que a criança entrar e não ver mais os pais é permitido chorar. Aos pais o choro pode vir depois, quando as portas se fecharem!
 
Como ajudar na adaptação depois de iniciada as aulas?
Mantenha uma relação amistosa com os profissionais da escola e mães dos colegas. Vá as reuniões, seja pontual, apresente-se bem vestido (japonês valoriza a estética e disciplina), demonstre a escola que você se esforça para se adaptar a cultura japonesa.
Mostre-se sempre aberto para o diálogo com a escola. Pergunte esporadicamente como está o desenvolvimento do seu filho (se brinca com os colegas, se já fala o idioma, se participa das atividades, etc).
Prepare sempre o filho para saber se comportar e se comunicar no Japão (sem retirar dele a sua essência, sua própria cultura). Esse é um desafio que pode diminuir os preconceitos. Japonês dá importância à harmonia e igualdade, portanto, ensinar a criança a se adequar nos diferentes lugares e culturas é uma competência que vai lhe ajudar em qualquer situação da vida, em qualquer lugar onde ele estiver.
Se os pais não falam japonês é importante aprender. A comunicação e essencial para diálogos imediatos com a escola, além de ajudar o filho nas tarefas escolares.

Se a criança chora para ir à escola, o que eu faço?
Não se deve diminuir a dor e o medo da criança dizendo frases que a diminuem ou desqualifiquem e forçando-a a entrar na escola. O choro é uma mensagem, que pode ser desde uma manha fruto de uma carência afetiva momentânea (vontade de ficar mais um pouquinho com os pais), até um alerta para dizer que algo de muito ruim tem acontecido dentro da escola.
Por isso, os pais devem tentar sentir o que os filhos estão sentindo, ajudando-o a traduzir o que dá medo, o que assusta, o que é ruim, numa conversa serena, olho no olho, com muito carinho.
Contar para o filho que ele não é o único que tem medo, que não quer ir à escola pode confortá-lo e encorajá-lo a seguir adiante. Pode-se, inclusive, contar experiências próprias e dizer que até os adultos podem sentir um “medinho” antes de começar qualquer atividade que seja nova.
Pode-se também fazer um calendário que mostre os dias de aulas e os dias de folga, de modo com que a criança consiga visualizar o seu tempo dentro da escola e o tempo fora. Utilizar adesivos para marcar os dias frequentados pode ser divertido.
O diálogo e a brincadeira em família são fundamentais para se descobrir o que o filho sente em relação a escola e suas necessidades. Se a criança fala pouco é possível desenhar, fazer teatrinho e utilizar amigos imaginários ou bonecos para conversar sobre a escola e encorajar os filhos.
É importante não ceder fácil. Às vezes também, as crianças compreendem as angústias dos pais em deixá-lo na escola e utilizam manobras para ficar em casa. Afinal de contas, é muito mais seguro, confortável e fácil ficar em casa com os pais, amigos ou irmãos do que na escola, sobretudo se ele precisa se esforçar muito para aprender a língua, os costumes, as disciplinas e fazer novos amigos.
Mas, se caso o choro continuar e a vontade de não ir à escola for assustadoramente persistente vale uma conversa com a escola e tentar juntos detectar o que pode estar assustando a criança. Se possível peça para assistir uma aula ou que seja filmado alguns momentos do filho em atividade escolar para que vocês vejam o que acontece e como ele está reagindo para ficarem seguros e acalentados.
Esta não e uma prática muito solicitada em escolas japonesas, mas considerando que as características e desafios de uma criança de outra cultura são claramente excepcionais, a escola pode e deve colaborar para ajudar os pais e a criança no processo de adaptação e inclusão.

E, finamente, se isso não ajudar, não hesite em buscar ajuda de profissionais para analisar casos específicos, como psicólogos e psicopedagogos. 
O SABJA, por exemplo, oferece atendimento psicológico de graça pelo telefone: 050-68616400

Gambatte Kudasai!


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Como ajudar a criança a se adaptar na escola?

No dia 26 de março de 2015 foi publicada uma matéria na Revista Alternativa sobre adaptação de crianças na escola, fruto de uma entrevista realizada comigo. O título da matéria é: "Meu primeiro dia de aula - dicas para pais e filhos estrearem com sucesso na escola japonesa".
Tenho a imensa alegria de compartilhar mais um apoio à comunidade brasileira no Japão, desta vez com a publicação numa revista, por meio da redação da jornalista Thassia Ohphata.
Segue fotos da matéria.

Gambatte Kudasai!










quarta-feira, 1 de abril de 2015

Leia com uma criança com livros gratuitos para download

Ler com os filhos gera muitos benefícios de acordo com muitas pesquisas científicas. Dentre eles estão: vínculo afetivo familiar, despertar da criatividade, aumento de vocabulário, letramento e alfabetização, especialmente o ensino da língua nativa ou da família.
O Ministério da Educação no Brasil disponibilizou alguns livros infantis e infanto-juvenis gratuitos para baixar, visando a população que tem pouco acesso à literatura de língua portuguesa, como é o nosso caso. Para ter acesso entre em: Livros para download
Para ajudar neste momento lúdico, prepare um "cantinho da leitura" especial, um lugar confortável, com poucos estímulos externos e, se conseguir dramatize as cenas, tornando cada leitura um momento divertido.
Se a criança ainda não sabe ler, apresente aos poucos as letrinhas e leia para ela, mas, sobretudo, valorize o hábito da leitura.
Lembre-se de que, os comportamentos e valores dos pais são sempre seguidos pelos filhos.
Boas leituras!

Gambatte Kudasai!