É interessante notar que há muitos relatos de casos de crianças brasileiras com autismo no Japão ou outros diagnósticos de dificuldades ou distúrbios de aprendizagem detectando uma necessidade especial.
Geralmente são as escolas as primeiras a apontar aos pais a necessidade de se fazer uma avaliação.
Alguns profissionais brasileiros da área da saúde chegam a questionar estes diagnósticos de escolas e clínicas japonesas, duvidando se realmente trata-se de um distúrbio individual ou uma dificuldade do sistema de lidar com crianças estrangeiras, coagidas por um sistema cultural novo, portadora de comportamentos natural e humanamente diferentes.
Bem, mas questionar estes diagnósticos não é o foco desta postagem. O fato é que realmente existem famílias que precisam cuidar de crianças portadoras de necessidades especiais morando no Japão e vamos aqui mostrar como elas convivem com este desafio e os apoios que possuem.
Com ajuda das famílias que fazem parte do grupo social do Facebook nomeado como “Mães de filhos especiais no Japão”, reunimos algumas informações e depoimentos sobre os beneficios do governo, a relação sociedade japonesa e criança especial, a diferença entre o tratamento das escolas japonesas e brasileiras e a solidariedade entre brasileiros. Acompanhe:
Existem benefícios do governo para crianças especiais no Japão?
Sim. Além dos benefícios financeiros para todas as famílias com filhos no Japão, existe um especial que se chama “Auxílio de bem-estar da criança com deficiência” (Shogaji Fukushi Teate).
É um auxílio para crianças portadoras de deficiência física ou psicológica e que necessita de cuidados especiais na vida diária. Há limite de renda anual e depende de uma avaliação diagnóstica da criança. O grau de deficiência deve ser mais severo para o recebimento deste benefício. O valor médio é de 14.000 ienes por mês.
Além dos benefícios financeiros, há também uma preocupação do governo em proporcionar terapias, suprindo as necessidades de estímulos para o seu desenvolvimento, é o que comentam as mães. Existem, por exemplo, muitas escolas ou clinica com tratamentos especiais onde elas são encaminhadas para receberem tratamento.
Como a sociedade japonesa convive com estas crianças?
Comparando com o Brasil, a sociedade japonesa está mais preparada para aceitar e receber estas pessoas na sociedade. Há uma infra estrutura melhor para ela conviver na cidade. Mas, em termos de oportunidade de trabalho, o Japão, assim como alguns outros países possui suas deficiências no sistema de inclusão.
Em relação aos pais, vivendo numa sociedade competitiva, esses têm muita resistência em aceitar que seus próprios filhos possuam alguma deficiência e não procuram ajuda. Tirá-lo da escola padrão para uma especial seria como extrair do filho uma oportunidade de evolução acadêmica, necessária para um progresso futuro na universidade e vida profissional. Portanto, a maioria prefere fechar os olhos e não aceitar as recomendações da escola.
Como as escolas japonesas lidam com estas crianças?
Quando a escola padrão percebe alguma dificuldade especial na criança ela sugere aos pais que a encaminhe para um centro de diagnósticos (Hoken Center).
Quando os pais aceitam e há um diagnóstico concluído, geralmente eles indicam mudar o aluno para uma escola especial, que possui recurso de estimulação necessária, porém é excludente, por isso os pais lastimam tanto.
Quando os pais não aceitam e permanecem com a criança na escola padrão, os professores, em geral, não têm muito recurso para lidar com ela, deixando-o à parte do grupo, sem estratégia de apoio individual, perpetuando o seu atraso.
Algumas escolas possuem as chamadas “salas especiais” que são aulas de reforço para crianças com algum atraso na aprendizagem devido à diversos fatores (inclusive as de adaptação cultural, como no caso de alunos estrangeiros). Neste caso, os professores, geralmente, são especialistas em educação especial. Mas isso não significa ter capacidade adequada e multidisciplinar para oferecer condições de desenvolvimento pleno destas crianças. É apenas um reforço acadêmico, com algumas estratégias individualizadas.
Como funcionam as escolas públicas japonesas para crianças especiais?
As Escolas de Educação Especial (Tokubetsu-Shien-gakko) são escolas para crianças com deficiência relativamente mais severa e visam oferecer uma educação mais adequada às necessidades educativas individuais de uma criança. Existem em todos os níveis de ensino obrigatórios, desde o jardim de infância.
Há casos de crianças que vão para estas escolas e depois conseguem retornar para a escola tradicional. Dependo do grau de dificuldade, do nível e tempo de tratamento e estimulação que esta criança recebeu em sua vida.
As escolas brasileiras estão preparadas para receber uma criança com necessidades especiais?
Existem diversas experiências entre as famílias brasileiras. Mas o que difere na qualidade de atendimento escolar é o grau de dificuldade da criança, pois, se ela precisa de profissionais de diversas especialidades (como fonoaudiólogo, psicólogo, etc.), as escolas apresentam mais dificuldade no acompanhamento desta criança, por não terem suporte de equipe multidisciplinar.
Há casos de professores brasileiros estudando cursos de especialização sobre inclusão e atendimento de crianças especiais para ajudar na atenção individualizada destes alunos. E são apoiados pelas instituições.
Mas também há relatos de mães que não encontram na escola brasileira capacidade, investimento ou interesse em ajudar estas famílias.
Como a comunidade brasileira se solidariza e apoia estas crianças?
Existem associações de pais com crianças especiais no Japão, que vem se fortalecendo nos últimos anos, com apoio de profissionais especializados brasileiros e japoneses que oferecem palestras e orientações.
Existe também o grupo social no Facebook chamado de “Mães de filhos especiais no Japão”. Lá é possível tirar mais dúvidas e discutir as experiências pessoais com outras famílias que passam pelos mesmos desafios.
Conclusão
Para encerrar gostaria de levar-nos a pensar que todas as pessoas são especiais, possuem suas características próprias e tem o direito de conviver em sociedade. Todo governo, liderança e comunidade deveriam encontrar estratégias para que todas as pessoas se sentissem confortáveis no lugar onde vive e encontrassem oportunidades de aprendizagem.
Creio, juntamente como muitos estudos da ciência, que não existem dificuldades de aprendizagem e sim dificuldade de ensinagem. São os pais, professores, colegas e cidadãos que devem desenvolver novas formas de agir e ensinar estas crianças que sim, são repletas de potencial.
Agradeço às mães que disponibilizaram algumas informações e espero que as associações se fortaleçam cada vez mais para buscarem seus direitos e melhores oportunidades para seus filhos, em qualquer lugar deste mundo!
Rachel Matos 28/9/2015 via IPC digital
http://www.ipcdigital.com/colunistas/rachel-matos/maes-brasileiras-com-filhos-especiais-falam-sobre-a-realidade-de-viver-com-este-desafio-no-japao/
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