sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O que poucos sabem sobre as dificuldades das crianças estrangeiras na escola japonesa e dicas que podem ajudar

O que as pesquisas, artigos científicos, professores e programas de atendimento às crianças e jovens estrangeiros no Japão revelam é que neste país encontra-se um dos mais difíceis sistema escolar para uma criança estrangeira se adaptar e estudar.

Não é difícil só pela rigidez dos estudos e cobranças escolares (o que faz a maioria achar que esta é uma oportunidade maravilhosa de desenvolvimento para a inteligência das crianças, especialmente quando se compara com um sistema precário de educação pública no Brasil), mas sobretudo, é difícil devido à cultura grupista e nacionalista do currículo e metodologia japonesa (que tende a isolar e desfavorecer tudo e todos que são diferentes), somado às dificuldades de idioma (fala e escrita) dos alunos e seus pais que muitas vezes não conseguem dar suporte necessário nos deveres escolares de casa e no diálogo com a escola.

Recentemente a Ministra das Relações Exteriores do Brasil divulgou dados dos brasileiros presos no exterior e revelou que no Japão existe mais casos de delinquência juvenil de brasileiros, comparado aos demais países, devido ao grande número de evasão escolar das crianças e jovens que não conseguem acompanhar o sistema e acabam por ficar excluídos das oportunidades da sociedade.

Ela e as demais pesquisas alertam as famílias para reconhecerem os problemas pelos quais os filhos enfrentam nas escolas para poder desenvolver ações efetivas de apoio escolar em casa e parcerias com as escolas.

Veja quais são as maiores dificuldades que, geralmente, em maior ou menor grau, as crianças estrangeiras enfrentam nas escolas japonesas e que geram consequências no rendimento escolar, no relacionamento familiar e social e no retorno ao Brasil:

Dificuldades no rendimento escolar

  • Ler e escrever japonês
  • Compreender, de modo geral, as aulas, pela falta de fluência no idioma;
  • Maiores dificuldades nas disciplinas de Matemática (devido à metodologia diferente) e História do Japão (devido aos conteúdos desconhecidos de uma família  estrangeira);
  • Dificuldade em fazer as lições de casa (devido ao idioma e pouca ajuda dos pais em casa);
  • Dificuldades em aceitar e se acostumar com os costumes e hábitos de estudo dos japoneses;
  • Cansaço físico e mental pelo rigoroso e longo sistema de estudo da escola.

Dificuldades sociais e emocionais

  •  Comunicação (fluência no idioma);
  • Fazer amizades;
  • Exclusão e isolamento social;
  • Preconceitos étnico raciais com brincadeiras humilhantes e bullying vindo de crianças japonesas e estrangeiras (que competem entre si para ver quem fala melhor o idioma japonês ou quem está mais “adaptado”);
  • Rejeição dos professores;
  • Alimentação diferente;
  • Desconhecimento do universo infantil ou juvenil japonês, dificultando as conversas e entrosamento;
  • Traumas psicológicos;
  • Dificuldades em entender as regras escolares;
  • Dificuldade em aceitar valores, costumes e sistema organizacional e disciplinar da escola, especialmente a limpeza escolar;
  • Perda de identidade na busca diária de se enquadrar nos moldes japoneses para aceitação.
  • Amortecimento dos problemas, pela demora na ajuda, com a participação de intérpretes (se é que possui esta ajuda, pois geralmente existe o apoio deste profissional somente nas escolas de cidades onde residem grande número de brasileiros);

Dificuldades familiares

  • Problemas de comunicação entre pais e filhos, quando esses passam a falar mais japonês do que a língua materna dos pais em casa.

Dificuldades no retorno ao Brasil

  • Dificuldades de adaptação no Brasil quando retornam (a perda da identidade brasileira acarreta numa nova readaptação ao país de origem. Desde idioma ao modo de se comportar).

Longe de trazer uma visão pessimista e assustadora, estes dados oferecem uma provocação e um alerta às autoridades brasileiras, profissionais que atuam no Japão e, sobretudo aos pais que podem ajudar os filhos a enfrentarem os desafios e dar suporte em casa.

O QUE FAZER?

Nota-se que quanto mais os pais estimulam os filhos, acompanham os deveres escolares, aprimoram o idioma, garantem uma rotina educativa em casa e trocam experiências e informações com a escola e a comunidade escolar, mais rápida é a adaptação, inclusão e progresso escolar dos filhos.

Começar cedo na escola japonesa (na educação infantil, por exemplo) e participar de escolas preparatórias (aprendizagem da língua e cultura japonesa) também facilita o processo de aprendizagem do aluno na escola japonesa.

ONDE PROCURAR AJUDA?

A maioria das prefeituras oferecem ou indicam Centros Gratuitos de Apoio aos Estudos para Estrangeiros (“Gaikokujin gakushu shien center” ou 外国人学習支援センター) . Neles há aulas de japonês para adultos e crianças, além de reforço escolar. Procure informações em sua prefeitura.

Para atendimentos ou aconselhamentos psicológicos gratuitos há o SABJA – Serviço de Apoio aos Brasileiros no Japão. O atendimento é feito também à distância, com ajuda da tecnologia. O telefone é050-6861-6400.

Se você é pai ou mãe no Japão, fique atento e ajude seus filhos! É possível favorecer o processo de aprendizagem deles na escola, mas é preciso ajuda, como todas as pesquisas e atendimentos revelam e vocês são capazes de administrar e acompanhar estas ajudas.

Invista! O retorno costuma ser recompensador!

*Texto publicado na Coluna Rachel Matos no site IPC Digital em 7/8/2015.

Acesso em: http://www.ipcdigital.com/colunistas/rachel-matos/o-que-poucos-sabem-sobre-as-dificuldades-das-criancas-estrangeiras-na-escola-japonesa/



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