sexta-feira, 21 de agosto de 2015

10 dicas para as férias escolares no Japão

Férias são excelentes oportunidades para os pais estarem mais próximos aos seus filhos, além de poderem oferecer diferentes oportunidades para o seu desenvolvimento.

No Japão, as férias de verão estão quase terminando. Mas, ainda é tempo de aproveitar os últimos dias com os filhos em casa!

Então aproveitem as dicas:

1 – Visitem museus 

Veja a lista de museus de ciência em 15 regiões do Japão no link

 2 – Visitem parques aquáticos

Conheça onde existem aquários no país entrando no site

 3 – Passeiem em zoológicos 

Encontre um zoológicos perto de você no site

4 – Visitem livrarias 

No espaço infantil das livrarias costumam ficar à disposição alguns livros para serem folheados. Explorem os materiais e aproveitem os contos para se divertirem juntos, estimulando a leitura.

5 – Leiam com seus filhos e acessem livros em português online gratuitamente

Ler com os filhos ajuda no desenvolvimento da linguagem, fluência do idioma, vinculo emocional e conteúdos para diálogos. Se quiser aproveitar livros em português, veja esta lista de livros disponíveis gratuitamente pelo Ministério da Educação do Brasil no site

 6 – Aproveitem as praias (se possível) e piscinas públicas que existem em todas as cidades

No Japão existem muitas piscinas públicas, bem estruturadas, com baixo custo de entrada. Verifique na sua prefeitura o guia de lazer da sua cidade e região.

7 – Façam piqueniques nos parques

Como exemplo, um lanche de janta especial num dos parques da cidade à noite, caso os pais trabalhem durante o dia.

8 – Usem a criatividade nos dias de chuva (veja as sugestões no link)

Dias de chuva em que as crianças precisam ficar em casa, é hora de colocar a criatividade em dia! Estimule atividades educativas para que elas não fiquem muito tempo na TV ou nos joguinhos eletrônicos. Vejam dicas de algumas brincadeiras para se fazer em casa no site

9 – Façam sessão cinema e assistam a algum filme em família

10 – Criem oportunidade para os reencontros com familiares do Brasil (ao menos online ou via troca de cartas). Isso favorece o elo com as raízes culturais e a manutenção ou aprendizado da língua portuguesa

Fortaleça os vínculos familiares nestes dias em que as crianças estão menos atarefadas, mais soltas e disponíveis. É uma grande oportunidade!

Apesar da bagunça da galerinha aumentar nas férias, a diversão e o elo familiar podem ser garantidos! Aproveitem!

*Postagem feita no dia 19/8/2015 na Coluna Rachel Matos para o site IPC Digital.

Acesso em: http://www.ipcdigital.com/colunistas/rachel-matos/o-que-fazer-nos-ultimos-dias-de-ferias-escolares/


Sim, é possível e eu te conto detalhes do processo de inclusão do meu filho na escola japonesa

Integração e inclusão são processos diferentes. Enquanto o primeiro diz respeito ao esforço pessoal de adaptação, fruto de uma moldagem a um sistema, o segundo, a inclusão, diz respeito a um processo coletivo de mudanças e adaptações para aceitar e favorecer o desenvolvimento das pessoas, respeitando suas singularidades.

Para apresentar esta diferença e também compartilhar experiências registrei aqui como foi o processo de inclusão do meu filho na escola japonesa, mais especificamente numa escola de educação infantil (Yuchien).

Certa de que não existem respostas corretas e únicas, a intenção é fazer trocas de práticas de sucesso para inspirar mais famílias a ajudarem a inclusão escolar no Japão, além de mostrar que existem escolas por aqui que são capazes de ajudar os estrangeiros. Vejam lá:

QUANDO TUDO COMEÇOU

Quando chegamos no Japão meu filho tinha 2 anos de idade.

Aos 3 anos, ele começou a se interessar em brincar com outras crianças nos parques em que íamos diariamente. Mas os primeiros grandes desafios do idioma e cultura apareceram: sem saber falar japonês e tendo seu aspecto físico diferente da população local nenhuma criança queria brincar com ele, nenhuma mãe estimulava algum filho a aceitá-lo na brincadeira e alguns ainda se afastavam discretamente quando nos aproximávamos na tentativa de brincarmos juntos.

Racionalmente eu compreendia a situação: eles também têm medo do diferente, não sabem se comunicar conosco, além de não serem – em sua maioria – estimulados a conviver com a diversidade.

Compreensível, mas meu coração “rasgava” cada vez que ele, tão pequeno, dizia “mamãe, ninguém quer brincar comigo”.

Isso não estava certo, humanamente falando.

Era hora de agir. Não dava para esperar algum japonês me ajudar…

O COMEÇO DA AÇÃO

Entendi que estava no momento de buscar um local para ele brincar, aprender o idioma e um pouco da cultura japonesa para poder fazer parte de uma comunidade. Era isso que ele precisava e me pedia por traz do seu pedido na fala de uma criança de 3 anos: “mamãe quero brincar com outras crianças”.

Era hora de sair do ambiente familiar e explorar o mundo.

Era hora de nós dois sairmos do casulo e enfrentarmos o país.

Como eu não falava japonês fui em busca de espaços com esta finalidade, com mediadores. Achei que as escolas e os professores poderiam ser os meus primeiros ajudantes neste processo.

A BUSCA PELA ESCOLA CERTA

Escola perfeita não existe, mas existe uma escola ideal para cada perfil de família e criança. E isto depende das expectativas e necessidades de cada um.

Eu fui atrás de uma escola que pudesse dar atenção para as particularidades do meu filho e nos encarasse como seres humanos e não “alienígenas”!

Pesquisei na prefeitura os melhores Yuchiens (jardins de infância) perto da minha casa. Visitei 5 deles e fiz várias perguntas aos professores em todas as visitas.

Perguntas do tipo: como foi ou é a experiência da escola com estrangeiros? E com crianças surdas e mudas? Meu filho é “surdo e mudo” para o idioma japonês. Como vocês o ajudariam a entender, se comunicar e a se relacionar?

Além disso, vivenciamos algumas atividades recreacionais para não-alunos oferecidas por estas escolas e observei a desenvoltura e segurança das professoras com meu filho que respondia em português e se comportava diferente das outras crianças.

Das 5 escolas que visitei, 4 mostraram-se tensas com a nossa presença. Apesar do discurso de que se esforçariam ao máximo para nos ajudar, essas 4 não fizeram nada além do que o atendimento padrão voltado a todas as crianças japonesas, além de olhar para a gente com ar de tensão como se fossemos “alienígenas”!

O meu coração não estava confortável. Até que visitamos a 5a escola.

CHECAGEM E ENTROSAMENTO: O INÍCIO DO PROCESSO INCLUSIVO

Escolhemos uma escola pequena, com cerca de 50 alunos e uma média de 12 crianças por turma. E com 4 anos ele ingressou nessa escola.

Além do tamanho, o que nos cativou foi a tranquilidade, segurança e alegria com que fomos recebidos. A comunicação via gestos e dramatização era espontâneo. E isso se provou em todas as visitas que fizemos.

Dicionários português/japonês e frases básicas de cumprimentos em português foram expostas na sala onde os “não-alunos” se reuniam quinzenalmente com as mães e professores para atividades recreativas, antes de se matricularem.

Estas foram as ações espontâneas da escola para nos ajudar e incluir. Bingo! Fechamos com ela o contrato de dividir esforços na formação do meu filho!

AULAS INICIADAS, ESCOLA, COMUNIDADE ESCOLAR E FAMÍLIA COMPROMISSADAS COM A INCLUSÃO 

Optei por uma relação de transparência com a escola. Não hesitei em buscar auxílio de profissional de tradução para estar comigo em todas as reuniões.

Expus minhas dificuldades, medos e inseguranças. Pedi ajuda e fiquei disponível para ajudar.

Desenvolvemos uma empatia, de forma com que o compromisso para incluí-lo passou a ser de ambas as partes, não só da escola.

Veja o que a escola fez:

– Colou mapa e bandeirinhas do Brasil na sala de aula da turma do meu filho;

– Colou alguns cartazes com frases e palavras em português com figuras assimilativas para que meu filho pudesse mostrar o que precisa, se os gestos não ajudassem (Por exemplo: partes do corpo para mostrar alguma dor e a professora poder repetir e checar em português);

– Comprou para a professora um dicionário eletrônico;

– Pediu ajuda das famílias em reunião escolar e ainda mais, definiu líderes entre as mães, para serem responsáveis por nos ajudar (especialmente mães que falam inglês);

– Aceitou, inicialmente, um processo de adaptação à comida da escola. Alguns dias o “obento” era feito com a minha comida (típica brasileira) e suco e outras a comida da escola. Aos poucos começamos a mesclar com a comida japonesa e chá, até ele se adequar às refeições da escola. A própria convivência com os colegas o incentivou no processo;

– Filmou meu filho em algumas atividades (nos primeiros meses de aula) para me darem segurança de que ele estava se divertindo na escola.

Eu fiz:

– Dei de presente um livro sobre crianças brasileiras para as mães verem com as crianças e entenderem um pouco do nosso universo e de onde viemos;

– Organizei um churrasco (dividindo os custos entre a turma) para que eles experimentassem nossa culinária;

– Participei dos bazares escolares vendendo produtos brasileiros à preço de custo somente para levar nossa cultura àquela comunidade;

– Pedi apoio e agradeci às mães, em todas  as reuniões, por nos ajudar e estimular os filhos a ajudar o meu filho;

– Eu e meu marido ajudamos nosso filho a aprender japonês fora da escola também, formalizando os conhecimentos;

– Fiz curso de japonês para poder ajudá-lo e ainda mostrá-lo que estávamos no mesmo movimento;

– A cada regressão do meu filho (vontade de não ir à escola, sintomas de solidão e medo) eu marcava uma reunião com a professora que compreendendo melhor seus sentimentos buscava estratégias em aula para inclui-lo e se fazer entendido pelos colegas;

ALGUMAS LIÇÕES

As ações com as famílias feitas pela escola foram importantes, uma vez que geralmente as japonesas levam muita à sério os compromissos firmados em público. Era quase uma obrigação nos ajudar!

As trocas culturais foram necessárias para tornar o “diferente” habitual, “normal”. Assim, o respeito à diversidade foi conquistado à medida que as diferenças foram compreendidas e conhecidas.

Aprender o idioma junto com meu filho foi essencial para que ele mantivesse a motivação por enfrentar seus desafios, ente eles a solidão na escola e as frustrações pelas inúmeras tentativas com insucesso de tentar brincar junto sem conseguir falar e entender. Ele entendia que não estava sozinho nesta luta e tinha a mim e a seu pai como companheiros na aprendizagem de fatores para viver melhor no Japão.

Inclusão não é feita só por uma parte: pais, escola e comunidade precisam estar firmes no propósito e agindo em parceria.

CONCLUSÃO

Estou certa de que o processo de inclusão não está acabado. O respeito à diversidade são desafios diários para um estrangeiro no Japão, seja na escola, no trabalho ou em qualquer lugar. Aliás, em muitos lugares do mundo!

Contei uma experiência de uma escola infantil japonesa, espero um dia contar outra semelhante da escola fundamental, cujos desafios sabemos que são outros!

Como eu já disse, não há receitas padrão para que ocorra a inclusão, mas com exemplos diferentes a gente pode somar esforços e conhecimentos para ajudar os brasileirinhos nas escolas japonesa.


*Postagem feita em 14/8/2015 na coluna Rachel Matos nos ite da IPC Digital.
Acesso em: http://www.ipcdigital.com/colunistas/rachel-matos/sim-e-possivel-e-eu-te-conto-detalhes-do-processo-de-inclusao-do-meu-filho-na-escola-japonesa/

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O que poucos sabem sobre as dificuldades das crianças estrangeiras na escola japonesa e dicas que podem ajudar

O que as pesquisas, artigos científicos, professores e programas de atendimento às crianças e jovens estrangeiros no Japão revelam é que neste país encontra-se um dos mais difíceis sistema escolar para uma criança estrangeira se adaptar e estudar.

Não é difícil só pela rigidez dos estudos e cobranças escolares (o que faz a maioria achar que esta é uma oportunidade maravilhosa de desenvolvimento para a inteligência das crianças, especialmente quando se compara com um sistema precário de educação pública no Brasil), mas sobretudo, é difícil devido à cultura grupista e nacionalista do currículo e metodologia japonesa (que tende a isolar e desfavorecer tudo e todos que são diferentes), somado às dificuldades de idioma (fala e escrita) dos alunos e seus pais que muitas vezes não conseguem dar suporte necessário nos deveres escolares de casa e no diálogo com a escola.

Recentemente a Ministra das Relações Exteriores do Brasil divulgou dados dos brasileiros presos no exterior e revelou que no Japão existe mais casos de delinquência juvenil de brasileiros, comparado aos demais países, devido ao grande número de evasão escolar das crianças e jovens que não conseguem acompanhar o sistema e acabam por ficar excluídos das oportunidades da sociedade.

Ela e as demais pesquisas alertam as famílias para reconhecerem os problemas pelos quais os filhos enfrentam nas escolas para poder desenvolver ações efetivas de apoio escolar em casa e parcerias com as escolas.

Veja quais são as maiores dificuldades que, geralmente, em maior ou menor grau, as crianças estrangeiras enfrentam nas escolas japonesas e que geram consequências no rendimento escolar, no relacionamento familiar e social e no retorno ao Brasil:

Dificuldades no rendimento escolar

  • Ler e escrever japonês
  • Compreender, de modo geral, as aulas, pela falta de fluência no idioma;
  • Maiores dificuldades nas disciplinas de Matemática (devido à metodologia diferente) e História do Japão (devido aos conteúdos desconhecidos de uma família  estrangeira);
  • Dificuldade em fazer as lições de casa (devido ao idioma e pouca ajuda dos pais em casa);
  • Dificuldades em aceitar e se acostumar com os costumes e hábitos de estudo dos japoneses;
  • Cansaço físico e mental pelo rigoroso e longo sistema de estudo da escola.

Dificuldades sociais e emocionais

  •  Comunicação (fluência no idioma);
  • Fazer amizades;
  • Exclusão e isolamento social;
  • Preconceitos étnico raciais com brincadeiras humilhantes e bullying vindo de crianças japonesas e estrangeiras (que competem entre si para ver quem fala melhor o idioma japonês ou quem está mais “adaptado”);
  • Rejeição dos professores;
  • Alimentação diferente;
  • Desconhecimento do universo infantil ou juvenil japonês, dificultando as conversas e entrosamento;
  • Traumas psicológicos;
  • Dificuldades em entender as regras escolares;
  • Dificuldade em aceitar valores, costumes e sistema organizacional e disciplinar da escola, especialmente a limpeza escolar;
  • Perda de identidade na busca diária de se enquadrar nos moldes japoneses para aceitação.
  • Amortecimento dos problemas, pela demora na ajuda, com a participação de intérpretes (se é que possui esta ajuda, pois geralmente existe o apoio deste profissional somente nas escolas de cidades onde residem grande número de brasileiros);

Dificuldades familiares

  • Problemas de comunicação entre pais e filhos, quando esses passam a falar mais japonês do que a língua materna dos pais em casa.

Dificuldades no retorno ao Brasil

  • Dificuldades de adaptação no Brasil quando retornam (a perda da identidade brasileira acarreta numa nova readaptação ao país de origem. Desde idioma ao modo de se comportar).

Longe de trazer uma visão pessimista e assustadora, estes dados oferecem uma provocação e um alerta às autoridades brasileiras, profissionais que atuam no Japão e, sobretudo aos pais que podem ajudar os filhos a enfrentarem os desafios e dar suporte em casa.

O QUE FAZER?

Nota-se que quanto mais os pais estimulam os filhos, acompanham os deveres escolares, aprimoram o idioma, garantem uma rotina educativa em casa e trocam experiências e informações com a escola e a comunidade escolar, mais rápida é a adaptação, inclusão e progresso escolar dos filhos.

Começar cedo na escola japonesa (na educação infantil, por exemplo) e participar de escolas preparatórias (aprendizagem da língua e cultura japonesa) também facilita o processo de aprendizagem do aluno na escola japonesa.

ONDE PROCURAR AJUDA?

A maioria das prefeituras oferecem ou indicam Centros Gratuitos de Apoio aos Estudos para Estrangeiros (“Gaikokujin gakushu shien center” ou 外国人学習支援センター) . Neles há aulas de japonês para adultos e crianças, além de reforço escolar. Procure informações em sua prefeitura.

Para atendimentos ou aconselhamentos psicológicos gratuitos há o SABJA – Serviço de Apoio aos Brasileiros no Japão. O atendimento é feito também à distância, com ajuda da tecnologia. O telefone é050-6861-6400.

Se você é pai ou mãe no Japão, fique atento e ajude seus filhos! É possível favorecer o processo de aprendizagem deles na escola, mas é preciso ajuda, como todas as pesquisas e atendimentos revelam e vocês são capazes de administrar e acompanhar estas ajudas.

Invista! O retorno costuma ser recompensador!

*Texto publicado na Coluna Rachel Matos no site IPC Digital em 7/8/2015.

Acesso em: http://www.ipcdigital.com/colunistas/rachel-matos/o-que-poucos-sabem-sobre-as-dificuldades-das-criancas-estrangeiras-na-escola-japonesa/



sábado, 1 de agosto de 2015

Filho conta sobre suas dificuldades em se adaptar no Japão e dá uma linda lição de amor e companheirismo

Sentados num banco de um dos parques de uma cidade japonesa, o filho, ainda vestido com uniforme, chapéu e mochila nas costas e a mãe, cansada depois de uma jornada de trabalho, olham para os corvos voando de árvore em árvore, em silêncio.
O pequeno garoto ainda imaturo para compreender suas emoções e a mãe preocupada com os problemas do marido não trocam uma palavra… Mas suas almas seriam capazes de falar entre si e tudo começaria assim:
Filho: Mãe, por que tudo tem que ser tão difícil para mim?
Mãe: Difícil? Você só estuda e brinca e ainda tem todas as possibilidades de vida que eu e seu pai não tivemos no Brasil. Porque você acha que é tão difícil?
Filho: Você acha que vou à escola e só porque tento cumprir o que é me mandado fazer, acha que sou feliz? Nem tudo e fácil. Eu não tenho amigos, por exemplo. Vivo em volta de um bando de crianças que me olham e riem de mim. Alguns tem mais paciência, mas outros vão logo me deixando sozinho nas primeiras tentativas de frases em japonês que eu tento dizer.
Mãe: Já estão te fazendo este tal de bullying?
Filho: Não mãe. Ninguém encostou em mim ou me xingou. Mas os olhares deles dizem tudo: eles reprovam meu jeito de vestir, reprovam meu jeito de falar, meu jeito de sorrir… Quando eu erro em algum comportamento e não sigo alguma regra tem muito engraçadinho que tira onda comigo e mais a professora que logo me manda fazer o que ela quer, nem mesmo me explicando onde foi que eu errei. Sem contar quando eu não levo algo de casa que foi pedido, porque você não conseguiu ler e entender o informativo…
Tentando acalentar o filho a mãe diz: Isso é normal, meu filho. Você ainda tem que aprender a conviver com os japoneses. Com o tempo vai aprender a falar e a se comportar como eles. E eu… eu ainda não falo japonês também. No meu dia-a-dia eu não preciso muito do idioma e da escrita, então eu acho que não tenho tanta necessidade de aprender como você…
O filho persiste: Mas mãe… por que ninguém faz um mínimo de esforço para se adaptar a mim? Por que ninguém se esforça para me aceitar e gostar de quem eu sou e da forma como eu faço as coisas? Porque eu sou o único que não tenho meus pais para me ajudarem? Você também sempre dizia que “ser diferente é legal”! Que “temos que respeitar e incluir os diferentes”! Quer dizer que agora eu tenho que mudar o que sou para ser aceito por eles? Isso não é respeito, nem mesmo inclusão!
Um pouco engasgada e com discurso conformista, a mãe fala: Você tem razão, mas aqui é assim e eu e seu pai também passamos por momentos difíceis de adaptação.
A mãe, sem saída, questiona o filho: O que você acha que deveríamos fazer?
O filho respira fundo e faz uma das reflexões mais maduras que ele já fez em seu pequeno tempo de vida:Mamãe, nós precisamos mostrar para o pessoal da escola o nosso valor. Eles precisam conhecer nosso país, nossos costumes… precisamos ajudá-los a gostar da gente e das nossas diferenças, já que eles não aprenderam e ninguém está ensinando a fazer isso. Podemos começar por nós mesmos!
Mãe: Mas como? O que devíamos fazer?
Filho: Pensa mãe, pensa.
O filho começa a se empolgar: Precisamos, mamãe, fazer os professores entenderem que temos uma história de vida e considerar nossos conhecimentos na rotina da escola e dos colegas, sem ferir muito quem a gente é e ainda valorizando o que já temos.
Mãe: Mas como, filho?
Filho: Pensa, mãe, pensa. E também podíamos, nós dois, estudarmos o japonês em algum horário depois da escola. Assim você me ajudaria e a gente entenderia melhor o mundo deles.
Mãe: Mas como filho? Onde? Quanto isso nos custaria?
Filho: Pensa, mãe, pensa. E também, mãe, podíamos ter mais tempos juntos para brincar, eu você e papai…. assim, eu não me sentiria tão sozinho neste mundo assustador e diferente de mim…
Mãe: Mais tempo ainda? Como assim? Fazendo o que?
Filho: Pensa mãe, pensa…
Mas aí, o som de uma criança correndo na frente deles os despertou deste ensaio e o diálogo silencioso entre eles foi rompido.
Sem entender muito bem o que se passava, mãe e filho levantaram do banco em novo estado de espírito, um novo ânimo e algumas possibilidades para superarem os desafios diários de uma família migrante: estudar juntos, fazer trocas culturais com a comunidade, discutir com professores alternativas de inclusão e passar mais tempo de qualidade em família.
Mas como?
PENSA MÃE, PENSA PAI…
Este é um texto de ficção e retrata algumas angústias e reflexões de muitas famílias em seus primeiros anos morando no Japão, especialmente se tem filhos.
Escutar as mensagens do coração dos filhos ajuda os pais a tomarem as melhores decisões para ajudá-los. Isto é empatia e precisamos exercitar mais para aprimorarmos nossas missões de pais e mães, especialmente nesta difícil jornada de adaptação durante uma migração.
*Texto da minha coluna no IPC Digital em 1/8/15.