terça-feira, 14 de outubro de 2014

Matriculei meu filho pequeno numa escola japonesa, como ocorre e como eu o ajudo na adaptação?

Quer ver um coração apertado e uma sensação de impotência, quando não seguido de culpa, é ver uma mãe deixando o seu filho na escola nos primeiros dias de aula.
Lidar com a separação e com tantas inseguranças num país e numa escola onde há dificuldades na comunicação e diferenças culturais é um processo que costuma ser muito desgastante.
Baseado em experiências de mães aqui no Japão e nos suportes de teorias psicológicas serão apresentados alguns panoramas e algumas dicas que também servem para famílias cujos filhos cursarão escolas brasileiras ou internacionais.
Analise com cuidado e faça as suas adaptações, de acordo, sempre com o seu coração e os seus valores.

- Como acontece o período de adaptação na escola japonesa?
Geralmente as escolas possuem um programa gratuito de atividades mensais ou quinzenais para crianças não matriculadas e suas mães durante o ano letivo. Procure saber se a sua escola de preferência oferece este programa e tente participar. Tanto mães e crianças tem a oportunidade de se familiarizar com a escola um ano antes de sua entrada. Isto facilita a adaptação no primeiro dia de aula.
Algumas escolas também aceitam cuidar e brincar com crianças não matriculadas em períodos do dia recebendo uma taxa por hora. Seu filho pode começar a frequentar a escola 1 vez por semana, por exemplo, na sua presença e depois sem. Assim, ambos também podem acostumar com o ambiente escolar e com pequenos períodos distantes entre si. Pouco a pouco a adaptação ocorre.
Caso não consiga participar destes programas leve o seu filho para visitar a escola antes do 1o dia de aula. Explique como funciona, mostre os lugares para brincar, seja positiva e encorajadora. 
Uma vez matriculado e chegado o 1o dia de aula, geralmente as escolas recebem os alunos na primeira semana durante um período menor do que um dia normal (por exemplo, das 9:30 às 11:30h, ao invés de ir até 14h, no caso de yuchien). Sem os pais. Ou seja, a criança já fica sozinha no 1o dia. 
Se ela já tiver conhecido esta escola antes a possibilidade dela ficar bem (mais segura, curiosa e ansiosa para conhecer a escola e brincar) é maior. 

- Como procedo nos primeiros dias de aula?
A ansiedade de separação é normal. Ambos criança e pais, geralmente as mães, sentem vontade de chorar. Há muitos medos envolvidos nesta separação. Mas é extremamente importante que o adulto mantenha uma postura amorosamente firme e encoraje a criança. Diga que acredita que ela é capaz de fazer novos amiguinhos, que vai se divertir brincando, que o tempo sem a mamãe é curto, que vai passar rápido, etc. Depois que a criança entrar, vire as costas e chore, se quiser!!! Mas demonstrar segurança na frente do seu filho é extremamente importante e saudável!
E, sobretudo, busque seu filho no horário estipulado. Não atrase nem um segundo, se possível. Criança pequena tem pensamento concreto. Se os amigos começam a ir embora e não tem ninguém para buscá-la a ansiedade aumenta significativamente, com medo de ser abandonada. É bem possível que ela não queira voltar no dia seguinte.
Receber a criança com alegria depois da escola também pode ajudar. Mostre entusiasmo pelas novas descobertas dela. Faça perguntas sobre a escola. Se a criança não quiser ou puder falar não force, apenas mostre que a família está feliz com esta nova etapa da vida dela.

- Como fico sabendo se meu filho está se adaptando?
No final de uma semana de aulas tente conversar com o professor, perguntando sobre o seu filho. Se ele tem chorado, se tem feito as refeições. Crianças que não comem na escola possivelmente ainda não se acostumaram com o ambiente novo.
Pergunte se ela já consegue brincar livremente ou participar das atividades orientadas pelos professores. Se a resposta for afirmativa a criança está progredindo bem. Se for negativa seja paciente, será preciso mais tempo para ela se sentir à vontade na escola e interagir.
Continue elogiando em casa. Mostre exemplos de outras crianças que também estão indo para a escola. Assista junto um pouco de desenho educativo de crianças na escola (como por exemplo o Cid o Cientista).
Muitas vezes a família na ânsia de saber como foi a escola faz a seguinte pergunta: "como foi a escola?". Algumas crianças não conseguem responder por ser tão ampla e subjetiva a questão. Tente fazer perguntas específicas do tipo: quem sentou do seu lado hoje? O que te fez rir hoje? Aconteceu algo que te deixou triste? Existe algum coleguinha que você não quisesse que sentasse ao seu lado? Por que? O que ele fez? Você dançou hoje? Brincou no parquinho? Etc.
Combine com a escola algum dia chegar mais cedo e entrar para observar seu filho brincando. Evite ser percebido por ele. É uma forma de vê-lo na escola e confortar o coração!
Outra opção é pedir à coordenação que filme ou tire fotos dele e te mostre para você ver como ele está evoluindo dentro da escola.
Mas é claro, não abuse destas estratégias, pode atrapalhar os professores e fomentar a insegurança entre vocês.

Outras dicas para criar empatia entre escola, criança e família também podem ser dadas
Uma relação amistosa entre vocês ajuda no desejo de cuidar com carinho da criança e no processo de adaptação durante todo o ano. Analisem o caso de vocês e aproveitem!

- vá em todas as reuniões e participe dos eventos de familiares. Leve um amigo interprete se possível;
- seja pontual;
- apresente-se bem vestido (cuide da estética). 
Japoneses, em especial, gostam e valorizam a disciplina. Mostrar à escola que você também se esforça para se adequar à cultura e que é uma pessoa educada eleva a motivação deles em ajudá-los. 
- elogie e agradeça a professora pelo esforço em ajudar o seu filho. Elogiar é uma forma de reconhecimento e motivação para que o professor continue ajudando o seu filho.
- leve um presentinho à professora uma vez ao ano. Japoneses costumam trocar presentes como forma de agradecimento e respeito.
- mostre-se sempre aberto para diálogo sobre o processo educativo com o seu filho;
- pergunte, de vez em quando, como ele está se desenvolvendo na escola (Brinca com colegas? Já fala algumas palavras em japonês? Mostra-se contente? Participa das atividades?)
Normalmente as famílias japonesas não se envolvem nas questões educativas da escola e vice-versa. É uma cultura que prejudica muito o projeto de desenvolvimento da criança, pois há pouca parceria entre família-escola.
No Brasil é diferente, pais e coordenadores conversam sobre o desenvolvimento da criança, trocando ideias e dando conselhos. Não se acanhe neste sentido, seja pró ativa e sutilmente, com muito respeito e humildade, faça perguntas à professora de vez em quando.

Não há receitas prontas na jornada da adaptação. Levante a antena do coração e siga os seus passos.

Gambatte Kudasai!






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